sábado, 26 de dezembro de 2009

Ministros acumulam gastos com cartões e diárias

Matéria que fiz ontem para A TARDE:

Levantamento feitono no Portal da Transparência, da Controladoria Geral da União (CGU), mostra que pelo menos dois ministros acumularam recebimento de diárias com gastos de cartões corporativos em 2009. Até julho deste ano, eles não levaram em consideração recomendação feita pela CGU, em fevereiro de 2008, para que ministros não utilizassem os cartões. A orientação foi dada após escândalo que resultou no pedido de demissão da ministra da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro.

A saída da ministra ocorreu após a constatação de que ela gastou R$ 171,5 mil em viagens. As despesas eram equivalentes a R$ 14,3 mil mensais, R$ 3,56 mil acima de seu salário. Foram descobertos gastos irregulares, como a compra de produtos em um free shop.

SAÚDE - O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, que recebeu R$ 28.367,97 em diárias este ano, teve gastos de R$ 3.740,82com o cartão até 21 de julho, quando opresidente Lula assinou decreto proibindo o uso de cartões e aumentando o valor das diárias dos ministros. Em 2009, Temporão pagou com o cartão 12 diárias de hotéis de quatro e cinco estrelas em São Paulo, Porto Alegre, Porto Velho, Salvador, Belém, Vitória e Fortaleza.

Seus hotéis preferidos foram o Della Volpe, em São Paulo (quatro diárias), e o Pestana, em Salvador (duas vezes). Quatro despesas foram feitas em restaurantes. A maior conta com hospedagem – R$ 419,20 – foi paga ao Brasilton Hotel, em Belém (PA). Com alimentação, a mais
alta (R$ 191,17) foi na Churrascaria Indiana, em São Paulo.

O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, recebeu R$ 13.721,70 em diárias, entre fevereiro e setembro, e gastou R$ 889,45 com ocartão. Ele pagou diárias no Serghs Grand Hotel, em Natal (RN), e no Rota Brasil (SP) e uma conta de R$ 221, no restaurante Camarões Potiguar.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Agruras de um editor na pele de repórter

Experiência interessante que deveria ser vivenciada por todos os editores: fazer uma matéria e deixar outra pessoa editá-la, com liberdade. Foi o que fiz ontem. O resultado, no caso, me mostrou algumas barbeiragens, me fez voltar a sentir as agruras de repórter e me deixa mais atento no processo de edição, que retomo na segunda-feira, após um período de 15 dias como editor-chefe interino de A TARDE.

Alguns exemplos de falhas na edição, causadas pela necessidade de cortar as matérias.

No lide disse que os blocos afros de Salvador criariam uma Liga a partir de modelos de organização como a Liga da Escola de Samba do Rio de Janeiro.Mais adiante, acrescentava declaração do presidente do bloco Vulcão da Liberdade, Paulo Cambuí, de que eles tiveram contatos com modelos de gestão de diversas entidades, mas teriam que construir um sistema próprio para atender as especificidades do carnaval baiano. Tudo isso foi cortado e foi publicado faria a criação de uma entidade "nos moldes da Liga da Escola de Samba do Rio de Janeiro".

A segunda, é pior falha - e vou ficar por aqui para não parecer implicante - está no quadro sobre o que é necessário para concretizar os cinco principais projetos dos blocos. Estava escrito:

"Festival de música negra - Precisa de financiamento. É o porjeto mais caro. Está em torno de R$ 110 mil. Prevê a montagem de palco e estrutura, a participação de convidados e os custos com os processos para seleção das músicas"

Foi publicado:

"Festival - Concurso para escolha demelhor música negra das entidades".

Meu Deus, de onde saiu isso!

sábado, 21 de novembro de 2009

A interferência da emoção

Trabalho em jornais desde 1980 e me transformei em editor em O Dia (RJ) em 1993. Já apurei e acompanhei muitas tragédias, inclusive vividas por jornalistas. Em 1997, por exemplo, testemunhei uma editora de A Notícia, que fazia parte do grupo O Dia, reconhecer na foto de um corpo carbonizado o próprio irmão, um agente da polícia federal morto por traficantes.

A frequência de fatos lastimáveis me fez desenvolver uma espécie de mecanismo de proteção, no qual me distancio ao máximo da tragédia para que a emoção não atrapalhe a realização do trabalho.

Ontem, o sistema de isolamento falhou e editei a primeira página de A TARDE revoltado e muito triste. Explico. No Dia da Consciência Negra, em Salvador, mesmo não sendo feriado, entidades do movimento negro marcham lembrando a morte de Zumbi dos Palmares, reivindicando igualdade racial e protestando contra a violência que dizima os jovens. Ao mesmo tempo, exibem com orgulho suas origens.

Preparava uma página que abria com a manchete sobre os investimentos que a Ford fará no Brasil e na Bahia, a partir da prorrogação por cinco anos da isenção de impostos federais. Isso permite que ela deixe de recolher aos cofres públicos R$ 800 milhões anuais. No final das contas, quem paga para a multinacional crescer somos nós.

Revoltei-me. Ainda mais quando vi a foto da cerimônia em que Lula anunciava as medidas. Só havia brancos no palco. Empresários e políticos, a elite brasileira. Decidi abrir a foto em cinco colunas abaixo da manchete. E sob ela, uma foto maior ainda, mostrando a marcha do movimento negro. Seria uma representação da sociedade.

No entanto, um comentário do designer da 1ª página, Vado Alves, sobre a foto que acabara de entrar na página de Últimas Notícias me chamou a atenção. Ele disse: "Acho que estou ficando velho, não suporto mais ver isso".

Quando olhei para a imagem de um pai que amparava o filho morto por traficantes, desabei. Fiquei sem voz, as lágrimas vieram nos olhos. Detalhe: ele ficou nessa posição por quase cinco horas, esperando o rabecão.

Pouco antes, acabara de ouvir o depoimento da repórter Cleidiana Ramos, na qual ela descrevia que uma líder comunitária e religiosa negra, em discurso na Praça Castro Alves, se dirigiu ao governador Jaques Wagner, pedindo para que se desse um basta ao massacre de jovens vítimas da violência. Lula estava ao lado deles.

Me ocorreu a celeridade para garantir benefícios para a elite não é a mesma para resolver sérios problema, que tem como maioria das vítimas pessoas das classes menos favorecidas.

Lembrei também de meu filho e de como o amo.

E imaginei toda a dor que o pai que acalentava o rapaz morto sofria ali e sofrerá por toda a vida.

Rsolvi mudar a primeira página. Tirei a foto de Lula e da elite empresarial e política, com raiva. Eles não mereceriam o destaque, aparecendo como os bons capitalistas, que se preocupam com o desenvolvimento do País.

Mantive a da marcha da igualdade e a do rapaz morto na periferia. Elas resumiriam melhor a realidade das ruas - acreditei.

Agora, pela manhã, tenho sérias dúvidas se essa foi a decisão correta. Se a a manutenção da foto do presidente que concedia renúncia fiscal para uma multinacional fazer o que deveria ser feito com o dinheiro dela não teria um impacto maior de denúncia.

Só tenho uma certeza: a emoção interferiu no meu trabalho. Interferiu muito.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Dia da Consciência Negra



Vejam como os dois principais jornais da Bahia têm visões diferentes sobre a questão do negro. Essas foram as capas de hoje, no Dia da Consciência Negra.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Bastidores da primeira página

A capa da edição de hoje de A TARDE (19/11) começou a ser concretizada às 20 horas de ontem. À princípio seguiríamos o modelo de uma das 16 templates existentes, na verdade são quatro modelos com pequenas variações sobre o mesmo tema. No entanto, pedi para Vado, meu parceiro e diagramador da primeira página, que desenvolvesse paralelamente a página que eu gostaria de fazer. Quando as duas ficaram prontas, era gritante a diferença em favor da que utilizava tudo que está previsto no projeto gráfico, mas não é contemplado nas páginas pré-fabricadas.

Consultei os editores de Salvador, se eles estariam dispostos a fazer a troca de várias páginas da edição, além de colocar os repórteres para buscarem os dados que estavam faltando. Precisávamos de estatísticas e contar a história do juiz que atropelou e matou um empresário motociclista e que está livre, seguindo a rotina de professor e atuando no fórum, enquanto um motorista de caminhão-caçamba, envolvido em acidente semelhante que resultou na morte de uma estudante, em Itabuna, foi enquadrado em três crimes, sem direito a fiança. Vale lembrar que pela manhã, não havíamos localizado o juiz.

Um repórter, então, mergulhou na internet em buscas de estatísticas. Encontrou os dados mais atualizados de Salvador na página da Transalvador (órgão de trânsito da cidade). Derrubei uma matéria sobre o anúncio de criação de um projeto da área de segurança, ainda longe de concretização, e pedi para que o repórter que a estava fazendo fosse à universidade, onde sabíamos, através do editor de fotografia, que o juiz estava dando aula. Para buscar dados sobre mortes no Brasil, provocadas por acidente de trânsito, recorri à página do Datasus. Depois foi discutir qual seria o número que estaria representado no gráfico da primeira página, com o pessoal da arte.

A corrida contra o tempo animou o fechamento. Tudo ficou pronto em quatro horas. Isto não teria sido possível sem os esforço de Vado Alves (diagramador da 1ª), Carlos Casaes (editor de fotografia), Édson Borges e Luís Lassere (editores de Salvador), Filipe Cartaxo (infografista), Samuel Lima, Flávio Costa, Luísa Torreão (repórteres), Claudionor Santos (fotógrafo), que complementaram o trabalho do pessoal da manhã e da sucursal de Itabuna.

Mais tarde postarei a página do modelo de template para comparação.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Apagão

Depois de um tempo fazendo a primeira só com templates para consolidar a reforma gráfica do jornal, uma pausa para criar. Esta é a edição de A TARDE de 12/11/2009

sábado, 3 de outubro de 2009

Rio 2016 - Análise das capas dos jornais brasileiros

Foram consultadas as primeiras páginas de 29 jornais brasileiros, pequenos e grandes, no site Newseum.org.

É impressionante perceber que 22 das manchetes e chamadas foram calcadas em conceitos, jogos de palavras e informações vagas e 4 foram factuais. A conclusão é que nenhum destes jornais conseguiu dar algo diferente do que os sites, rádios, TVs, blogs tinham anunciado desde o início da tarde de ontem.

O Correio Popular (Campinas), o 35º mais vendido no país (IVC de agosto), seguiu à risca o que dizem consultores internacionais, jogou a cobertura para frente. Veja como a aplicação meramente teórica deixa a manchete com cara de suíte.

Já A Tarde (BA) e o Globo (RJ)utilizaram modelos híbridos de manchetes (mistura de "jogar para frente" e títulos conceituais, com jogo de palavras).

Quanto às imagens utilizadas, 20 usaram fotos da festa dos cariocas na Praia de Copacabana; 9 preferiram fotos das imagens que davam destaque a Pelé e Lula; 3 investiram na comemoração dos cartolas e políticos durante a cerimônia do Comitê Olímpico Internacional, na Dinamarca; 5 utilizaram as imagens do Cristo Redentor; 4, a foto de Lula chorando; 4 usaram o símbolo da Rio 2016; 3, a do bandeirão com a imagem do Cristo, em Copacabana; 3 aplicaram ou brincaram com os anéis olímpicos; 1 usou um cartão postal do Rio; 1, a foto de Obama.

Todas imagens mostradas, exaustivamente, ontem. Esta seria uma das principais causas da queda de venda dos jornais.

Mas nem tudo está perdido. O interessante, porém, fica por conta da mistura desses elementos com criatividade, que rendem boas páginas. Ressalto as do Correio Braziliense e Diário de S. Paulo.

Dois jornais brincaram com seus logotipos. Um deles foi o Correio* (ex-Correio da Bahia), que faz isso sempre que pode. Ele adicionou mais quatro asteriscos à sua marca, simbolizando os anéis olímpicos.

O outro foi O Globo, que possui um dos projetos gráficos mais rígidos do país. Ontem, além de fazer um título criativo, usou o último O da logomarca como um dos cinco anéis olímpicos.

A edição de O Globo, que comprei agora à tarde, em Salvador, também traz dois cadernos de 38 páginas sobre o assunto, sendo 19 e um terço de anúncios, além de uma página só com fotos. O jornal carioca foi o que mais faturou com a parte comercial, inclusive com um reclame de 1/4 de página, da Nike, na capa.

Conceituais/vagas/jogo de palavras - 23

A olimpíada da alegria

A olimpíada é nossa

Sim, nós podemos

Rio Olímpico

Brasil abre os braços para as Olimpíadas

Olimpíada na cidade maravilhosa

A olimpíada do Brasil

Parece final de Copa do Mundo

Sonho olímpico vira realidade

O Rio chegou lá

Olha aí porque a gente ganhou

Brasil, país do futebol e do atletismo, natação, vôlei....

Rio é ouro

Olimpíada maravilhosa

Olimpíada de 2016 é nossa

O Rio é olímpico

O Rio merece

Cidade maravilhosa e olímpica

É o Rio

Olé

Nosso Senhor dos Anéis

Aquele abraço

Factuais - 4

A Olimpíada é do Rio

Emoção marca vitória do Rio para sediar Olimpíadas

Olimpíada de 2016 será no Rio

Rio desbanca potências e fará Olimpíadas

Joga para frente - 1

Olimpíada impulsionará trem rápido de Viracopos

Dois ou mais desses elementos - 1

Salvador, Brasília, São Paulo e Belo Horizonte sediarão jogos de futebol – A festa é do Brasil

2016, o ano que já começou. Agora só faltam sete para... fazer uma estação de metrô por ano, duplicar as vagas da rede hoteleira, despoluir a Baía e as lagoas da Barra, construir e reformar 33 instalações esportivas

Rio 2016 - Capas mais criativas


Correio Braziliense

Rio 2016 - Capas mais criativas


Diário de S.Paulo

Rio 2016 - Lula consola espanhóis

Rio 2016 - Capas

Capas de jornais americanos, latino-americanos e europeus mostram a impressionante força que Lula tem no exterior, a importância dada pelos países das Américas à conquista e ressalvam a derrota de Obama. Vale a pena ver os jornais de Chicago Tribune, Daily Herald, NYT e Washington Post. Ah! Para quem quer se vingar da empáfia dos dirigentes espanhóis, a pedida é o El País.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Um belo sorriso

A pele enrugada do rosto de dona Isabel se abre num sorriso de menina. Ela ri, mas está triste. Depois de nove meses, os implantes que a fizeram recuperar os dentes perdidos ao longo de seus 70 anos chegaram ao fim. Com nova feição e lágrima nos olhos, ela se despede da ascensorista e dos empregados do centro odontológico do bairro Itaigara, em Salvador, que ficaram seus amigos.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Reflexões sobre uma manchete

Bandidos armados barram repórter. A manchete de hoje (21/9) de A TARDE me deixou intrigado. Isso é manchete? Perguntei-me assim que li. Sou carioca, trabalhei a maior parte de minha vida nos jornais do Rio, onde fatos como esse são corriqueiros e não são publicados.

No Rio, repórter só é notícia quando é torturado ou morto pelos bandidos. Casos como o de Tim Lopes e de Nilton Claudino e a equipe de O DIA é que rendem páginas e mais páginas até que os bandidos sejam presos.

No decorrer da cobertura, porém, não se discute a responsabilidade das chefias, a imprudência dos profissionais, a falta de esquemas para proteção dos jornalistas e outras questões.

Conflitos nos bastidores são empecilhos para que se investigue a fundo, do ponto de vista jornalístico, a morte desses profissionais. Por que até hoje não foi escrito nenhum livro sobre o caso Tim? Por que a morte do fotógrafo Anibal Philot, de O Globo, não teve o mesmo destaque? Por que O Dia prefere proteger seus repórteres por conta própria em vez de mandá-los para o exterior em programas de proteção mais eficientes, bancados por instituições internacionais?

Voltando ao título principal da primeira página de A Tarde, como disse, estranhei no início. Até porque o jornal tinha uma boa alternativa para a manchete, matéria sobre o patrocínio de um site de jogatina inglês (sportingbet.com) a jogos da Série B, do Brasileirão.

Ao tentar encontrar argumentos para justificar a opção, reli a matéria. Ela conta que uma equipe do jornal, ao tentar reportar um incêndio na comunidade do Areal, no bairro de Santa Cruz, em Salvador, foi abordada por seis jovens que portavam pistolas. Diante de vários moradores, os bandidos bateram com pistolas nas janelas do carro de reportagem e ameaçaram atirar, caso os jornalistas Flávio Costa, Fernando Amorim e o motorista não fossem embora.

Ora, o fato ocorreu nove dias depois do fim da série de ataques a postos policiais e ônibus, iniciada no dia 7 de setembro, devido à transferência de um traficante para o presídio de segurança máxima de Mato Grosso do Sul. Aconteceu também numa área dominada por traficantes, o que o secretário de segurança pública, César Nunes, nega existir. Pergunto-me: esses dados justificam a manchete ou servem apenas para investirmos numa matéria mais ampla sobre os domínios do tráfico, em Salvador, que muda a imagem de terra dócil e pacífica, prejudica o turismo, afasta investimentos e desmonta a eficiência do aparato policial?

Me rendi à matéria – mas condeno a formulação da manchete pela fragilidade de sua estrutura– por um detalhe: a equipe prestou queixa na delegacia. Nessa atitude simples e cidadã, que os jornais e jornalistas do Rio não tiveram a coragem de tomar, quando o tráfico passou a expulsá-los em vez de convidá-los para festas regadas a churrasco e drogas, está a grande virtude do trabalho de meus colegas. O procedimento adotado deve virar uma norma para os jornais de todo o país para exigir a melhoria do trabalho policial e a garantia da segurança à população, mesmo quando não há heróis nem mortos.

Quem aprendeu na faculdade que jornalista não é notícia tem que reformular o conceito. O jornalista é notícia, sim, assim como todo cidadão que tem seus direitos violados.

sábado, 12 de setembro de 2009

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Homenagem a um velho amigo

Frases com conceitos sobre o novo projeto gráfico e editorial de A TARDE foram espalhadas pelas paredes, bancadas e chão do jornal. Dei algumas sugestões técnicas e inclui uma frase bem-humorada, que era dita todos os dias por um grande amigo e úm de meus mentores José Gonçalves Fontes.

Fontes ganhou vários prêmios jornalísticos. Na minha primeira passagem pelo Jornal do Brasil era o mais premiado da equipe, constava como verbete de enciclopédia por ter denunciado fraude nas eleições da Guanabara nos anos 60 e ocupava a função de chefe de reportagem.

Ontem, para minha surpresa, alertado por Gil Maciel, responsável pelo setor de infografia, deparei-me com a frase logo após a entrada principal da redação. "Passarinho que acorda tarde só belisca fruta verde". Taí uma boa homenagem para meu já falecido companheiro.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

2ª Guerra Mundial

Questões tecnológicas à parte, os jornais usavam conceitos como capas temáticas há bem mais tempo do que imaginamos. A TARDE, há 70 anos, anunciou a eclosão da Primeira Guerra Mundial em duas edições.

No primeiro clichê com"serviço extrangeiro directo e exclusivo da Associated Press" publicou a foto de arquivo, mostrando "uma vanguarda do exercito alemão" invadindo território inimigo. Aqui é que ficam evidentes os problemas tecnológicos, a foto usada era da invasão ao território francês, em 1914, na 1ª Guerra.

No segundo clichê, entraram três fotos: um boneco de Roosevelt, uma vista da cidade de Dantzig, onde começou a invasão, que parece ter sido tirada de um livro e uma foto reunindo Mussolini e Chamberlain.


Divirtam-se com esta viagem no tempo.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Edições econômicas

Os jornais Zero Hora (RS) e A Notícia (SC) lançaram edições econômicas/compactas para atender leitores com menor poder aquisitivo e enfrentar a concorrência, que tem preço mais baixo. Os lançamentos foram em fevereiro e julho deste ano.

O que parece inovador, porém, se baseia que defendi em 2005, no Observatório da Imprensa, e foi tema da coluna do designer Ary Moraes, na Revista Imprensa.
Não ganhei nem um obrigado.
O texto que fiz pode ser lido no endereço: http://bit.ly/jornais

sábado, 1 de agosto de 2009

Aniversário (23/09/2008 )

Que todas as bocas se abram para gritar, protestar, denunciar, e também exaltar as coisas boas – o amor, a vida, os filhos, o mar...– num tempo/convenção que só passa para quem quer.

P.S - Para minha querida filha Bárbara.

Outros séculos neste século
(30/07/2008)

A energia elétrica chegou em 1988, no distrito de Saco do Capim, em Irará, Bahia. O lavrador Pedro Cerqueira, que passara 54 anos de vida no escuro, ficou de olhos abertos na primeira noite longe das trevas, namorando a lâmpada acessa.

Nos 20 anos transcorridos entre a descoberta da luz e o jorro da água em sua torneira, ele viu um a um de seus 10 filhos deixar a pequena casa com paredes de estuque para se aventurar na capital.

Hoje, pela primeira vez, tomou banho de chuveiro. E as lágrimas se misturaram com a o líquido que vem direto da cisterna financiada pelo governo.

Clareando (27/05/2008)

Mulheres bonitas, dois vendedores gays oferecem produtos e se oferecem, crianças rolam na areia, um barrigudo pesca peixes menores do que piabas feliz da vida. O mar puxa. Tudo isso emoldurado por um céu lindo e colorido, com nuvens que tentam se infiltrar, mas só conseguem clarear um pouco o azul.

Gotas (27/05/2008)

A morena que sai do mar, no Porto na Barra, não deve nada às deusas. As gotas que escorrem em seu corpo tentam retardar a descida para aproveitar um pouco mais aquela pele. Quanto a mim, ao vê-la se afastar, fecho os olhos, na tentativa de aprisioná-la para sempre na memória .

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Avalanche (14/03/2008)

Te amei tanto, que nunca consegui tê-la como desejava.

Vivi momentos, pensando nos seguintes; ainda tinha o medo de perder-te.

Tropecei em sentimentos, ferindo-me, seguidamente, nas pedras do sofrer.

E na avalanche que provoquei, soterrei tudo o que mais queria.

Salão de beleza (08/09/2007)

MÁRCIA PERINI, morena alta, cabelos longos - Foi casada com um agricultor, que começou a enriquecer ao fechar um contrato de fornecimento de morangos para uma cadeia de supermercados. Trocada por uma loura; manteve o sobrenome do marido.

MÁRCIA TRISTE, negra, magra, melancólica - Estava grávida do ex-namorado quando conheceu Artur num ônibus. Casaram-se e ele assumiu a filha da manicure. Nos últimos nove meses deixaram de ter relações sexuais e o pedreiro chega em casa cada vez mais tarde.

ADAILTON, moreno, baixo, gordo, gay - Já caiu no golpe "boa noite, cinderela" duas vezes. As companhias que o colocaram para dormir com um sonífero no copo de bebida levaram os eletrodomésticos de sua casa e o dinheiro que pretendia enviar para a mãe, em Rondônia.

MARILENE SOUZA, mistura de negra e índio, 19 anos, coxas grossas - Acaba de receber flores enviadas pelo namorado, sem motivo aparente.

NILMA FERNANDES, branca, formada em Administração, duas plásticas - É a dona do salão. Recentemente, aceitou o marido de volta. Queixa-se que ele nunca lembra de datas importantes e não lhe dá presentes.

-.-.-.-.-.-.-.--.

Clientes e funcionários do salão riem, brincam... Por dentro, sentem inveja de Marilene.

Queima-roupa (27/06/2007)

No Recôncavo, às margens do Rio Paraguaçu, três pescadores comemoram a seu modo – o que significa muita cachaça – o 25 de julho, data do movimento precursor da Independência do Brasil e da expulsão dos portugueses da Bahia.

Uma repórter que conversava com eles sobre a festa, tem a curiosidade atraída pela forma com que um deles é tratado:

- E por que lhe chamam de Queima-roupa ? - pergunta.

Quem responde são os outros:

- É que um dia ele descobriu que estava sendo traído. Chegou em casa e botou fogo nas roupas da muher...

- Queimei até as calcinhas. Depois, mandei a miserável embora -, disse o beberrão.

Apelido (27/06/2007)

A figura de um negro imponente chamava a atenção no Sindicato dos Arrumadores da Estiva, no Rio de Janeiro. Seu Imagem, como era conhecido, estava chegando aos 70 anos, falava pouco e observava muito.

O garbo do velho impressionou uma estagiária de História, que pesquisava os primórdios da organização sindical no Brasil. Mas ao mesmo tempo que atraía a jovem, o veterano estivador inspirava medo.

Com jeito, Cecília tentou se aproximar. Fez perguntas e obteve respostas monossilábicas, em tom de voz tão baixo quanto uma prece.

Depois de várias tentativas frustradas de descobrir a história daquele homem, a moça decidiu que se contentaria em esclarecer porque Melquíades da Costa Lima era conhecido por um apelido tão estranho.

Foi no subúrbio de Rocha Miranda, há 25 quilômetros do Cais do Porto, que ela encontrou um antigo arrumador que esclareceu o mistério:

Imagem era uma abreviação de Imagem do Cão, denominação que o descendente dos primeiros escravos do Senegal, que chegaram a Portugal, em 1441, ganhou por ameaçar a fé católica, sacrificar animais e invocar orixás para atender socialites e políticos que o procuravam para curar doenças, enriquecê-los, destruir adversários e obter sucesso, fosse lá o que isso significasse.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Fora de matrix

Capa da edição de hoje de A Tarde

Minha opção foi não ser óbvio. A maioria - 99% - dos jornais brasileiros optou por reforçar o glamour do ápice da carreira de Michael Jackson. Preferi mostrar que o megastar teve uma morte igual a de pessoas comuns, numa ambulância do "Samu" de Los Angeles. A capa dividiu a redação, alguns editores preferiam ressaltar o mundo mágico. Alegavam que Michael teve uma vida glamurosa e deveria ser lembrado assim. Não havia argumento jornalístico para derrubar o fato de que esta era a última foto do artista, a mais forte e surpreendente. E que igualava um ídolo a todos os mortais. Acho que foi isso que os assustou.

domingo, 10 de maio de 2009

Destino (15/06/2007 )

Muito jovem, Jonas engravidou três mulheres na mesma época.

Largou duas e foi abandonado pela terceira, que soube de sua façanha.

Com 21 dias de intervalo, nasceram Ivna, Ilana e Ivana.

A primeira foi a editora que publicou o livro que o levou à fama.

A segunda, a médica que diagnosticou a rara doença que lhe fazia sofrer.

A terceira, a religiosa que segurava a mão do escritor na hora em que ele morreu, sem saber o que tinha sido feito de suas meninas.

Força (10/06/2007)

- Mãe, quem é mais forte, o branco ou o preto?

- Cor ou gente? - pergunta a cozinheira Idalina, tentando ganhar tempo.

- Tanto faz - responde a menina.

Idalina para, pensa um pouco e conclui:

- Mais forte são os cheiros, minha filha.

Acadêmico (07/06/2007)

Araújo Cabral é intelectual, escritor, jornalista, professor, poliglota, diretor de instituições públicas, faixa-preta de caratê, intelocutor de espíritos, freq�entador dos gabinetes de governos. Ele costuma colecionar títulos acadêmicos como generais fazem com as chapinhas que ostentam nos uniformes.

Na noite da feira do livro de Petrópolis, cidade serrana do Rio de Janeiro, ele estava incomodado porque só 15 pessoas enfrentaram o frio para vê-lo falar sobre temas que a maioria não entende.

No final da apresentação, o multihomem ficar irritado porque uma mulher pede a palavra e faz um longa pergunta, que ele responde em três segundos. Em seguida, vira-se para o mediador e diz:

- Pela minha experiência, você não devia ter permitido que ela fizesse a pergunta.

E ouve como resposta:

- Se não foi para responder, o que o senhor veio fazer aqui?

Revisão de sentença
04/06/2007

Gabriela, a representante dos deuses no Conselho dos Guardiães, considerou muito rigorosa a punição imposta a Paulo. Com sua intercessão, a senteça foi revista: o menino poderia voltar a transitar pelos dois mundos, mas não se lembraria de suas aventuras quando regressasse.

Num dos primeiros passeios, após o abrandamento da pena, sua protetora, que ainda não via justiça na decisão, lhe deu a chave para abrir as portas para os sonhos das pessoas que ele amava. Desde então, sempre alguém conta para o garoto as travessuras que ele faz na outra dimensão.



(*) Histtória sugerida por minha filha Gabriela, cujo nome significa "enviada dos Deuses"

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Resgate

Minha avó materna, Cacilda de Lourdes Novais de Oliveira, me ensinou a cantar quatro versos de uma música, quando eu era bem pequeno. Há dias tento me lembrar da letra, o que aconteceu hoje. Fiz uma busca na internet e encontrei um poema de Francisca Júlia (1874-1920), nascida em Eldorado, São Paulo, cujas duas primeiras frases são idênticas e as duas seguintes são bem parecidas. Transcrevo Paixão pela dança! com dois objetivos: lembrar minha vó e tentar descobri se o poema foi mesmo transformado em música e quem o teria gravado.

Nunca vi tal paixão pela dança.
Quando no salão se encontra um bom par.
O corpo se enverga com meiguice e balança.
Saciando o prazer de tanto bailar!
Vivendo no som da melodia e acompanhar.
Quando eu morrer se no céu for chegar.
São Pedro que na porta encontrarei.
Perguntara o que fez no mundo? Pode falar.
Não fiz nada mal: só dancei! Dancei! Eu bailei...
Bailar é bom e faz bem ao coração.
Elevada de tanto bailar com anjos pude encontrar.
Bailei...dancei! Dancei mesmo assim fui absolvida.
Com os anjos continuei a bailar em nuvens perfumadas.
Pela dança vivi incógnita um bom tempo entretida.
Nada se vê porem se pode sentir a leveza da dança.
Lá fiquei um bom tempo a bailar até a nova vida voltar.
Sentindo o sublime perfume do belo jasmim.
Trazer o bom e belo a nova vida que fui encontrar.
Perfumes e poesias e trovas toda beleza que lá encontrei enfim.
Tudo isso é bailar com corpo e com os olhos.
Bailar dançar não é pecado! Sem malicia e com pudor.
São enlevos que pessoas compartilham com a bela melodia.
Acompanhada de amizade respeito, paz, alegria e amor.
Revertendo em alegria o sofrimento que se passa no dia a dia.
Por essa razão vou bailar irei dançar até o fim.
Buscando alegria paz amizade e harmonia.

domingo, 26 de abril de 2009

1970

Minha fiha Gabi me enviou esta foto - eu, meus irmãos, meu pai (hoje faz 15 dias que ele morreu) e minha mãe (muito linda!). Brinquei com ela que somos a família mais separada do Brasil. Estamos divididos entre o Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Alagoas e Bahia. A foto é de 1970, durante o Carnaval, não me lembro se na Av. Presidente Vargas ou na Av. Rio Branco (RJ). Todos os filhos vestiam as mesmas blusas - a cor é que era diferente -, shorts e sandálias para que não houvesse ciúmes entre uns e outros. Obrigado Gabi, por tudo que a foto me traz.

sábado, 25 de abril de 2009

De frente para o mar

A 1ª Conferência Norte-Nordeste de Comunicação no Serviço Público reuniu, em Recife, cerca de 100 jornalistas, relações públicas, publicitários e técnicos, que atuam na faixa territorial entre Roraima e Bahia. Experiência relevante que serviu para distinguir jornalistas a serviço do Estado, interessados em se aperfeiçoar e melhorar a forma de se comunicar, e burocratas que se aboletaram em assessorias como único e definitivo emprego.

O evento proporcionou importantes debates entre profissionais que ocupam os dois lados do balcão comunicativo (assessorias e redações), acumulando queixas recíprocas e mágoas. Encarar que ambos enfrentam os mesmos problemas – enxugamento de equipes, falta de recursos e treinamento, patrões e assessorados equivocados, salários baixos, deadlines apertados e muitas outras mazelas – funcionou como um bálsamo. Mas também nos deu a certeza que precisamos fazer muito mais para solucionar um problema maior: a má qualidade da informação que levamos ao público.

Má qualidade muitas vezes originária da priorização do marketing sobre o conteúdo informativo e que tem como conseqüências transtornos para população, queda de audiência para os veículos de comunicação e perda de credibilidade do serviço público.

A complexidade das questões tratadas, evidentemente, não se resolve em dois dias. Surgiu da platéia o pedido para que outros encontros como este se realizem no Norte e Nordeste.

Eu, particularmente, saí da conferência com sensação que tive diante da Praia de Boa Viagem, em frente ao hotel onde se realizou o evento: foi reconfortante, mas não dá para esquecer que se bobearmos os tubarões nos atacam.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Condenação (02/06/2007)

No tempo em que as crianças transitavam nos mundos do sonho e da realidade com a mesma desenvoltura, Paulo atravessou o portal como fazia todas as noites. Encontrou uma cidade feita de doces e resolveu levar um pacote de delicados, depois de deliciar-se em fontes de groselha e de colher algodão-doce nas árvores.

Na travessia de volta, a mão apertava o saquinho de balas coloridas e o coração disparava.

Planejou abrir os olhos devagar antes de conferir sua relíquia, mas um vento travesso bateu a porta de seu quarto com força. O susto e o reflexo fizeram-no soltar as gomas coloridas, que se dissiparam no limbo.

Foi assim que aos três anos, como castigo imposto pelos guardiões do universo, o menino perdeu o dom de viajar entre as duas dimensões.

Nos mínimos detalhes
(14/05/2007)

Movida por mãos divinas, a água engole toda extensão de areia e explode na mureta da Praia da Barra, em Salvador, onde uma morena assiste ao espetáculo. Em gotas, o mar beija o rosto da moça, que se ilumina de espanto e alegria.

Perto dali, no Porto, cães labradores brincam, correndo atrás de um coco; duas meninas negras rolam na areia e soltam gritos de infância feliz; um homem de longos cabelos brancos e colares e brincos de sementes mergulha como se não carregasse o peso dos anos; casais se enlaçam; o sol ilumina a todos.

Foi nas terras quentes que um Deus inspirado fez estas pinturas, usando todas as cores da vida. E ainda me deu olhos azuis para vê-las.


(*) Para João, Gabi e Bárbara, minhas parcerias com Deus.

Os segredos da Terra
(12/05/2007)

O clima das terras frias poupa o diabo. É nos trópicos, onde os corações se aquecem, que ele se dana de trabalhar.

(*) Para Ivonilo

terça-feira, 14 de abril de 2009

Ligações

Homens são pontes. Quando se vão, abrem-se brechas nos caminhos e pessoas separam-se nas duas margens da vida.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Meu pai

Horacio José Garcia da Silva partiu do mundo 69 anos e 53 dias depois que embarcou nele, na Páscoa de 2009.

Foi embora me deixando de herança o gênio, o time brasileiro (Vasco), o rosto redondo, minha dupla nacionalidade e a vontade de desbravar o mundo e as mulheres.

Não concordava com a maneira que ele tocava a vida, a relação com os filhos e os negócios, sempre enrolados.

Nem consegui simpatizar com o Porto, para quem ele torcia em Portugal (preferia o Sporting do meu tio e padrinho, com quem ele rivalizava).

Por causa disso, brigamos muito, rimos muito e comemos muito bacalhau .

Ontem, não consegui passagem aérea para presenciar o seu sepultamento, mas minha filha Gabi disse que o rosto dele estava sereno.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Dia mundial da saúde

Esta é a capa de hoje de A TARDE. Compramos a foto do flagrante de parto na rua de um frila. A partir daí, construímos a cobertura sobre o Dia Mundial da Saúde e a situação do setor na Bahia. O texto da chamada: "

Um bebê com pouco mais de um quilo explodiu para a vida, ontem, às 13h30, no calçadão de Ondina. O menino, ainda sem nome, nasceu no Dia Mundial da Saúde, sem que sua mãe, a guardadora de carros Lucicleide da Anunciação Bispo, 32 anos, jamais tenha feito um exame pré-natal. Lutando para viver, o pequeno prematuro foi amparado pela médica fisiatra Lícia Ferreira Carneiro, 31, grávida de sete meses. Ela teve de reanimá-lo, pois ele veio ao mundo sem pulsação.

Em oito anos de profissão, foi o primeiro parto e a terceira vez que Lícia fez massagem cardíaca em uma criança – numa delas, o paciente não resistiu. A história que uniu duas mulheres que vivem em mundos diferentes na mesma Salvador não foi a única que marcou a data criada pela Organização Mundial da Saúde.

Cenas de descaso e protesto ocorreram no Hospital Geral do Estado, onde 50% dos funcionários cruzaram os braços contra o que chamam de distorções do plano de carreiras, cargos e vencimentos, aprovado em janeiro pela Assembleia Legislativa.

A manifestação aumentou a demora pelo atendimento na unidade, que até o meio-dia tinha recebido 250 pacientes. Cleonete Ferreira de Jesus, por exemplo, ficou numa ambulância à espera de socorro após enfrentar quatro horas de viagem e 287 quilômetros entre Capim Grosso e Salvador.

Nem ontem a dengue deu trégua: mais uma pessoa, a 12ª, morreu em Itabuna. Em Feira de Santana, a preocupação com a doença fez médicos iniciarem campanha para adiar a micareta. Num dia em que deveriam ser celebrados bons resultados, ficou claro que as autoridades municipais e estaduais têm de tomar muitas providências para dar um atendimento adequado à população | SALVADOR | PÁGINAS A4 E A5 | BAHIA | PÁGINA B8

“Ainda há muito o que fazer”
Jorge Solla, secretário estadual de Saúde

“ Vamos melhorar a atenção básica”
José Carlos Brito, secretário municipal de Saúde

Gabi

Gabi deu com a cara no mundo num hospital evangélico, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Eu estava desempregado e o pouco dinheiro que tinha serviu para pagar o médico na maternidade mais barata que encontrei.

Quando passou por mim pela primeira vez, na porta da sala de parto, ainda estava avermelhada, envolta numa pasta esbranquiçada e com resquícios de sangue. Achei que seria ruiva, mas os genes portugueses - meu e do avô materno Zequinha - a fizeram ficar loura, após disputarem a primazia com a herança indígena e negra de boa parcela da família de Joana, a mãe.

Volto à noite anterior ao nascimento, quando eu ainda torcia por um menino. Joana me pediu para que desistisse da idéia de chamá-lo de Gabriel, ela queria Matheus. Um anjo me soprou no ouvido e eu respondi: mas se for menina, será Gabriela.

Acordo fechado pulo para o cartório duquecaxiense, onde eu queria registrá-la com um nome longo: Gabriela Maria de Paula Costa da Silva, não aceito pelo escrivão. Ele alegou que "de Paula" não era sobrenome. Para fazer valer minha vontade, teria de ir a outro cartório e pagar por registrá-la fora de jurisdição.

Com pouco dinheiro, desisti e me arrependi por não fazer constar meu nome no dela, assim como fiz com João e Bárbara.

O tempo passou e vi que isto não tinha tanta importância: a menina com quem dormia abraçado num berço, com minhas pernas passando por entre as grades de madeira, tem o formato arredondado do rosto igual a mim, além de muitas outras características parecidas.

Hoje, quando Gabi completa 24 anos, precisamente às 21 horas, nem a distância entre Salvador e Rio me impedem de senti-la bem perto. Lembrar estas histórias é a forma que encontro de agradecer a Deus por este belo presente e de dizer o que todo mundo já sabe: "Bi, te amo loucamente".

segunda-feira, 6 de abril de 2009

A carta de Sullivan Ballou

O major Sullivan Ballou, integrante do 2º Batalhão de Voluntários de Rhode Island, escreveu uma carta para sua mulher Sarah, que o aguardava em Smithfield, uma semana antes de partir para a batalha de Bull Run, onde ele morreria. Ontem, na coluna de Elio Gaspari, jornalista que admiro, mas desaprovo certos métodos, como o de não escrever nada sobre fontes e amigos fiéis - em sua lista de proteção constavam o general Golbery do Couto e Silva e Antônio Carlos Magalhões -, li que ele (Gaspari) considerava esta carta mais bonitas da história.

Resolvi procurá-la e reproduzir para avaliação de meus três seguidores.

Mas antes de colocá-la, dúvidas: ao não citar trechos da carta na coluna, Elio fez jornalismo, incentivando pessoas a pesquisar sobre o assunto? Ou deveria mastigá-la e regurgitá-la na garganta dos leitores?

Bem, chega de história e vamos ao que interessa. Eis a carta, conforme foi lida na série americana The Civil War:

July 14,1861
Camp Clark, Washington DC

Dear Sarah:

The indications are very strong that we shall move in a few days - perhaps tomorrow. And lest I should not be able to write you again I feel impelled to write a few lines that may fall under your eye when I am no more.

I have no misgivings about, or lack of confidence in the cause in which I am engaged, and my courage does not halt or falter. I know how American Civilization now leans upon the triumph of the government and how great a debt we owe to those who went before us through the blood and suffering of the Revolution. And I am willing - perfectly willing - to lay down all my joys in this life, to help maintain this government, and to pay that debt.

Sarah, my love for you is deathless, it seems to bind me with mighty cables that nothing but omnipotence can break; and yet my love of Country comes over me like a strong wind and bears me irresistibly with all those chains to the battlefield. The memory of all the blissful moments I have enjoyed with you come crowding over me, and I feel most deeply grateful to God and you, that I have enjoyed them for so long. And how hard it is for me to give them up and burn to ashes the hopes and future years, when, God willing, we might still have lived and loved together, and see our boys grown up to honorable manhood around us.

If I do not return, my dear Sarah, never forget how much I loved you, nor that when my last breath escapes me on the battle field, it will whisper your name...

Forgive my many faults, and the many pains I have caused you. How thoughtless, how foolish I have sometimes been!...

But, 0 Sarah, if the dead can come back to this earth and flit unseen around those they love, I shall always be with you, in the brightest day and in the darkest night... always, always. And when the soft breeze fans your cheek, it shall be my breath, or the cool air your throbbing temple, it shall be my spirit passing by.

Sarah do not mourn me dead; think I am gone and wait for me, for we shall meet again...

domingo, 5 de abril de 2009

Eu e você

Eu hoje vi o sol namorando a lua. Eram cinco horas e dez minutos da tarde. Os dois estavam diante um do outro, na mesma altura.

Ela, com o vestido prateado, fulgurante diante do céu. Ele, irradiando vigor em sua roupa dourada.

Por um momento o sol se inibiu e escondeu-se por trás das nuvens. A lua permaneceu altaneira e exibida, acima dos prédios da Barra.

O rei do céu ainda esticou todos os seus raios como se quisesse tocar em sua amada antes de se recolher por trás da Ilha de Itaparica.

Ao cair da noite, sem se importar com os olhares dos homens, a lua ficou a mirar-se nas águas do mar.

E eu, que nunca tinha visto um amor tão impossível, pensei em como nós somos felizes.

domingo, 29 de março de 2009

Inventário
(09/04/2007)

Meu primeiro amor foi Astrid, de quem só guardei o nome.

Depois vieram Sandra, em quem bati porque me chamou de cabeção, e Vera, cujo retrato furtei.

O primeiro beijo dei em Inajá. Senti nojo de sua língua em minha boca, mas gostei de sentir seu corpo macio encostar no meu.

A primeira transa aconteceu com uma velha prostituta que me ofereceu sopa, após um jogo de futebol noturno. Eu tinha 13 anos e aprendi o que era sexo mecânico, sem prazer. O ensinamento durou mais de um ano.

A primeira namorada se chamava Mariana, com quem casei. Me deu muitas coisas: beijos gostosos, compreensão, conforto, incentivo, a primeira transa com prazer, três filhos. Mas um dia me desapontou.

Em seguida, Marias, Carlas, Joélias, Márcias, Luizas, Patrícias, Anas, Fátimas e uma dezena de outros nomes materializaram-se em minha cama, dissiparam-se em meus sonhos, delírios e fugazes desejos.

Certo dia apareceu Cristina, que transformou-se em paixão, vício, loucura e novas descobertas. Nos embolamos por 20 anos, com promessas de mais 2.980.

Aí veio a distância.

A dança de Serena
(05/04/2007)

Serena de los Anjos seguia todas as noites para a boate de um velho hotel de Montevidéu, à beira do Rio da Prata.

Vestes negras cobriam o corpo encharcado de perfume e ressaltavam o rosto empoado da mulher que dançava com suas memórias entre casais 40 a 50 anos mais novos.

Para os freqüentadores e os músicos não passava de uma louca. Por isso, não estranharam quando enxotou aos gritos o homem, que por pura comiseração, se atreveu a dar alguns passos com ela.

O que eles não sabiam é que não havia na face da terra dançarinos de tango tão bons quanto os fantasmas de Serena.

A tristeza de Cíntia
(02/04/2007)

Quando Cíntia fica triste as flores e os alimentos murcham, os pássaros se calam, as algas asfixiam os peixes, os rios param de correr, a noite chega mais rápido e a Terra submerge nas trevas.

A natureza está mais estranha hoje: a mãe de Cíntia morreu.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Filhos de Gandhy

Capa publicada na segunda-feira de Carnaval, em A TARDE (23/02/2009). Ela quebra um paradigma. Nos 97 anos do jornal, nunca havia sido publicada uma capa dupla. Não lembro de outra parecida no Brasil. No entanto, nos EUA o recurso foi utilizado em vários jornais no dia em que o presidente Barack Obama foi eleito

Galope

Eu, bem novo


Clara em transe
(27/09/2003)

De repente, Clara puxa o freio do tempo. Repete duas frases, como um mantra, e sente uma boca invisível deslizar por seus lábios, pescoço, seios e coxas.

Aquela estranha oração costuma ser repetida nos momentos de tensão; duas ou três vezes nos dias de horas mortas.

As palavras secretas produzem sensações que a fazem sentir-se viva na loucura do trabalho, da solidão, do Rio de Janeiro de 2007.

terça-feira, 10 de março de 2009

A viagem de Catarina
(abril 2004)

Ao tirar o pó da estante, Catarina acabou fazendo um passeio por sua vida. Ao folhear História do cerco de Lisboa, de José Saramago , deu de cara com a primeira dedicatória que a transportou para o passado. “Espero que o lirismo do livro a acompanhe para sempre. Judith”. Judith Marques era uma antiga amiga de colégio. Elas romperam depois que Catarina começou a namorar seu atual marido e a ex-amiga criticou-a por ter um caso com um homem casado. Logo Judith, que mantinha há dez anos uma relacionamento com Antão, jornalista, comprometido, pai de três filhos.

Fechou o livro e passou para A vida de Joana D’Arc, de Érico Veríssimo. Voltou um pouco mais no tempo. Era adolescente e resolveu colecionar a obra do escritor gaúcho. Sonhava em ser uma heroína e liderar um revolução. Não leu o livro, que ainda tinha páginas grudadas.

“Nenhum som me importa / afora o som do teu nome que eu adoro./ E não me lançarei no abismo,/ e não beberei veneno,/ e não poderei apertar na têmpora o gatilho/ Afora/ o teu olhar/ nenhuma lâmina me atrai com seu brilho (...)”. Os versos de Lílitchka! , de Maiakóvski, como dedicatória da antologia de poemas russos fazem-na lembrar de Augusto, o primeiro namorado. Com ele, 20 anos mais velho, aprendeu muita coisa: transar ouvindo música clássica, fazer fricassê de carne, estudar ciências esotéricas. Mas também teve dor, muita dor, quando ele a trocou por uma de suas alunas. Prometeu não amar mais ninguém.

Promessa quebrada muitas vezes. Uma delas registrada nas páginas iniciais de Griffin e Sabine, de Nick Bantock. “É um livro mágico”, relembrou ao ler a história de amor e da troca de correspondência entre o inglês Griffin Moss e uma amiga imaginária, Sabine Strohem, artista plástica que viveria numa ilha do Pacífico. Foi um dos primeiros presentes que Catarina recebeu de Saulo, seu atual marido, que agora roncava diante da televisão.

Romances, poesias, livros de mistérios, a coleção de ficção científica do Arquivo X , de Chris Carter, marcaram sua vida. Lembrou que leu Emma, de Jane Austen, em sua viagem a Paris. E chorou quando encontrou o surrado livro de fábulas com capa de pano, utilizado por seu pai como um tranqüilizante poderoso que a colocava para dormir.

Viajou pelas prateleiras da estante e pelo passado até baixar a poeira. Pensou que deveria vasculhar mais vezes os livros e, quem sabe, reler alguns, mas o choro do filho mais novo cortou seu pensamento.

O antigo JB

Redação do Jornal do Brasil (1986)


Safári (24/03/2007)

Se fosse humano teria 140 anos. Há dias, Campeão não se movia para desespero de seu companheiro de aventuras.

David queria encontrar um jeito de fazê-lo recuperar as forças, mas não sabia como. A situação estava crítica quando o menino lembrou-se de como o basset com vira-lata chegou à sua casa. Lembrou e correu a comprar um pinto.

Ao ver o bichinho, o cachorro transformou-se. De súbito, a vida impregnou-se em seu corpo. Latindo em rouca histeria, recordou que perseguiu, matou e comeu 15 filhotes como aquele, o que lhe valeu a expulsão, a vassouradas, do sítio em que morava. Depois, o exílio na chácara do pai de seu dono atual.

Já não pensava em mais nada quando lançou-se sobre o alvo, estraçalhando-o.
Ao morrer, um semana depois, o velho cão sonhava que perseguia leões.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Obdulio (1993)

Obdulio Varela, el último capitán. Tive o prazer de conhecer o capitão uruguaio da seleção de 50. Sua história e presença de espírito me marcaram. Cheguei a comprar o livro Obdulo, desde el alma, biografia escrita por Antonio Pippo.

Obdulio gostava de beber, se divertir e não ligava para dinheiro. Não pode ser comparado com Garrincha, porém. Estilos e posições diferentes em campo. Em casa, Obdulio contava com o apoio e a fibra de sua mulher, Catalina, que não cansava de denunciar as armações feitas pelos dirigentes. Ela também meteu a mão na massa, com parentes e alguns peões, para construir a casa onde a família ainda morava, após pagar aluguel durante muitos anos.

Fiz várias fotos de Obdulio com a família, mas só encontrei esta nos meus arquivos. Obdulio me comoveu ao contar que depois da conquista da Copa se separou dos companheiros e foi andar pela zona sul do Rio, se não me engano pelo bairro do Flamengo.

Relatou-me que ia passando pela rua e era parabenizado pelos brasileiros. Disse ainda que terminou a noite, bebendo com torcedores do Brasil num bar, triste por ter feito o povo sofrer. Para o biógrafo Pippo declarou que teria feito um gol contra se tivesse que jogar a mesma partida de novo.

Horas depois do Brasil derrotar o Uruguai pelas eliminatórias da Copa de 1994, em Montevidéu, tive a mesma sensação de Obdulio. Saí para comemorar com um jornalista da Folha de São Paulo, após passar minhas matérias. Os uruguaios, ao ouvirem nosso sotaque e palavras, nos paravam e davam parabéns pelo desempenho da seleção brasileira e de Romário. Passei a ter um carinho especial pelos uruguaios.

Conheci Obdulio em 1993, na véspera dele completar 76 anos. Ele morreu pobre - trabalhava num cassino -, aos 78 anos, em 1995. Para ele, uma homenagem através dos versos de Jorge Luis Borges:

"El que acaricia un animal dormido/El que justifica o quiere justificar un mal que le han hecho./El que prefiere que los otros tengan razón./Esas personas, que se ignoran, están salvando al mundo".

Filhos I


Eu, João, meu filho, e David, meu irmão. Roubo uma frase de As memórias do livro, de Geraldine Books, para definir João. Ele é a menina dos meus olhos e a raiz de meu coração

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Dança (20/03/2007)

As músicas iam para um lado , o corpo de Paula para o outro. Mas ela não desistia.

Freqüentou escola de dança, assistiu vários musicais, comprou livros e apostilas. Desenhou até os passos de bolero no chão da sala para obrigar-se a treinar sempre. Mas ainda tropeçava nas próprias pernas.

Criou uma estranha teoria e começou a beber, pois acreditava que o corpo solto podia bailar. Passou a viver de ressaca, com o fígado doente.

Foram tantas as tentativas fracassadas que resolveu pegar os discos e o que lembrava seu infortúnio e fez uma fogueira, onde colocou os pés.

Eles queimaram no ritmo do fogo.

Livro aberto (20/03/2007)

Decidiu escrever sobre si: a história de seu nascimento, o sofrimento com a morte do pai, da mãe, os namoros, as experiências com drogas, a insônia permanente, os dois abortos, o casamento sem amor, a primeira separação – e as que vieram depois.

Tatuou tudo no corpo.

E saiu nua, vagando pelas ruas.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Capa II

Jornais selecionados: The Salt Lake Tribune, San Francisco Chronicle, Las Vegas Sun, The Washington Post, A Tarde (Brasil) and the South Florida Sun-Sentinel.

Dois meses depois do Esso, outra comemoração. Capa feita por mim, Axel Augusto (subeditor de arte), Gil Maciel (editor de infografia), Filipe Cartaxo e Flávia Marinho (infografistas), no dia da posse (20/01/2009) do primeiro presidente negro dos EUA, Barack Obama, foi apontada como uma das mais criativas do mundo por The Poynter Institute. O Poynter é um conceituado instituto de ensino de jornalismo e pesquisas sobre mídia.

Além disso, a capa fará parte de um livro com as melhores 100 primeiras páginas sobre a eleição e posse de Obama. Para saber mais visite os endereços eletrônicos abaixo:

www.gjol.blogspot.com

www.poynter.org/column.asp?id=47&aid=156953

www.atarde.com.br/mundo/noticia.jsf?id=1071100

http://www.masteremjornalismo.org.br/noticia_view.php?id=1848