Obdulio Varela, el último capitán. Tive o prazer de conhecer o capitão uruguaio da seleção de 50. Sua história e presença de espírito me marcaram. Cheguei a comprar o livro Obdulo, desde el alma, biografia escrita por Antonio Pippo.
Obdulio gostava de beber, se divertir e não ligava para dinheiro. Não pode ser comparado com Garrincha, porém. Estilos e posições diferentes em campo. Em casa, Obdulio contava com o apoio e a fibra de sua mulher, Catalina, que não cansava de denunciar as armações feitas pelos dirigentes. Ela também meteu a mão na massa, com parentes e alguns peões, para construir a casa onde a família ainda morava, após pagar aluguel durante muitos anos.
Fiz várias fotos de Obdulio com a família, mas só encontrei esta nos meus arquivos. Obdulio me comoveu ao contar que depois da conquista da Copa se separou dos companheiros e foi andar pela zona sul do Rio, se não me engano pelo bairro do Flamengo.
Relatou-me que ia passando pela rua e era parabenizado pelos brasileiros. Disse ainda que terminou a noite, bebendo com torcedores do Brasil num bar, triste por ter feito o povo sofrer. Para o biógrafo Pippo declarou que teria feito um gol contra se tivesse que jogar a mesma partida de novo.
Horas depois do Brasil derrotar o Uruguai pelas eliminatórias da Copa de 1994, em Montevidéu, tive a mesma sensação de Obdulio. Saí para comemorar com um jornalista da Folha de São Paulo, após passar minhas matérias. Os uruguaios, ao ouvirem nosso sotaque e palavras, nos paravam e davam parabéns pelo desempenho da seleção brasileira e de Romário. Passei a ter um carinho especial pelos uruguaios.
Conheci Obdulio em 1993, na véspera dele completar 76 anos. Ele morreu pobre - trabalhava num cassino -, aos 78 anos, em 1995. Para ele, uma homenagem através dos versos de Jorge Luis Borges:
"El que acaricia un animal dormido/El que justifica o quiere justificar un mal que le han hecho./El que prefiere que los otros tengan razón./Esas personas, que se ignoran, están salvando al mundo".
GJOL em casa nova
Há 11 anos
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