quinta-feira, 30 de julho de 2009

Avalanche (14/03/2008)

Te amei tanto, que nunca consegui tê-la como desejava.

Vivi momentos, pensando nos seguintes; ainda tinha o medo de perder-te.

Tropecei em sentimentos, ferindo-me, seguidamente, nas pedras do sofrer.

E na avalanche que provoquei, soterrei tudo o que mais queria.

Salão de beleza (08/09/2007)

MÁRCIA PERINI, morena alta, cabelos longos - Foi casada com um agricultor, que começou a enriquecer ao fechar um contrato de fornecimento de morangos para uma cadeia de supermercados. Trocada por uma loura; manteve o sobrenome do marido.

MÁRCIA TRISTE, negra, magra, melancólica - Estava grávida do ex-namorado quando conheceu Artur num ônibus. Casaram-se e ele assumiu a filha da manicure. Nos últimos nove meses deixaram de ter relações sexuais e o pedreiro chega em casa cada vez mais tarde.

ADAILTON, moreno, baixo, gordo, gay - Já caiu no golpe "boa noite, cinderela" duas vezes. As companhias que o colocaram para dormir com um sonífero no copo de bebida levaram os eletrodomésticos de sua casa e o dinheiro que pretendia enviar para a mãe, em Rondônia.

MARILENE SOUZA, mistura de negra e índio, 19 anos, coxas grossas - Acaba de receber flores enviadas pelo namorado, sem motivo aparente.

NILMA FERNANDES, branca, formada em Administração, duas plásticas - É a dona do salão. Recentemente, aceitou o marido de volta. Queixa-se que ele nunca lembra de datas importantes e não lhe dá presentes.

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Clientes e funcionários do salão riem, brincam... Por dentro, sentem inveja de Marilene.

Queima-roupa (27/06/2007)

No Recôncavo, às margens do Rio Paraguaçu, três pescadores comemoram a seu modo – o que significa muita cachaça – o 25 de julho, data do movimento precursor da Independência do Brasil e da expulsão dos portugueses da Bahia.

Uma repórter que conversava com eles sobre a festa, tem a curiosidade atraída pela forma com que um deles é tratado:

- E por que lhe chamam de Queima-roupa ? - pergunta.

Quem responde são os outros:

- É que um dia ele descobriu que estava sendo traído. Chegou em casa e botou fogo nas roupas da muher...

- Queimei até as calcinhas. Depois, mandei a miserável embora -, disse o beberrão.

Apelido (27/06/2007)

A figura de um negro imponente chamava a atenção no Sindicato dos Arrumadores da Estiva, no Rio de Janeiro. Seu Imagem, como era conhecido, estava chegando aos 70 anos, falava pouco e observava muito.

O garbo do velho impressionou uma estagiária de História, que pesquisava os primórdios da organização sindical no Brasil. Mas ao mesmo tempo que atraía a jovem, o veterano estivador inspirava medo.

Com jeito, Cecília tentou se aproximar. Fez perguntas e obteve respostas monossilábicas, em tom de voz tão baixo quanto uma prece.

Depois de várias tentativas frustradas de descobrir a história daquele homem, a moça decidiu que se contentaria em esclarecer porque Melquíades da Costa Lima era conhecido por um apelido tão estranho.

Foi no subúrbio de Rocha Miranda, há 25 quilômetros do Cais do Porto, que ela encontrou um antigo arrumador que esclareceu o mistério:

Imagem era uma abreviação de Imagem do Cão, denominação que o descendente dos primeiros escravos do Senegal, que chegaram a Portugal, em 1441, ganhou por ameaçar a fé católica, sacrificar animais e invocar orixás para atender socialites e políticos que o procuravam para curar doenças, enriquecê-los, destruir adversários e obter sucesso, fosse lá o que isso significasse.