segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Pequenas histórias do Quinto dos Infernos VI

Cramulhão é o Capeta-mór do Quinto dos Infernos há 16 milhões de anos. O Quinto não tem Diário Oficial porque nenhuma rádio, emissora de TV e jornal publicam nada contra o "chefe".


segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Vade retro, mulambada*


Quem compra fruta estragada?
Quem gasta dinheiro com o que não vale nada?
Quem aposta milhões em empresa saqueada?
E em linha de produção estagnada,
arrebentada,
amaldiçoada?

Se a intenção é "lavar a bolada"
Sete um, preste atenção:
a jogada é pra lá de manjada

Alô, pastor, cuide de sua manada!
Publicitário, teu papo não agrada
Político que come pela beirada
E empreiteiro que gosta de grana facilitada
Tô de olho nessa bocada

Você que finge ajudar a moçada
Mas só pensa na comissão regada
Saiba que Irmã Dulce, abençoada
Só teve uma, camarada

É por isso que eu canto:
Vade retro, mulambada!
Vade retro, mulambada!



*A novela da venda de um jornal inspirou a letra desta música

Pequenas histórias do Quinto dos Infernos V


Rosa exalava enxofre no Quinto dos Infernos. Ela tinha seis filhos de seis companheiros fugazes. Virava diarista quando a situação apertava muito.

Entre priorizar as farras ou as crianças, preferiu o que dava menos trabalho.

***

Ana Hot fugiu de casa aos 15 anos.

Lilica, 13, foi matriculada na escola para receber a Bolsa Inferno. Mal sabia ler.

Adriana, 12, tinha uma doença que consumia o fígado. Quase não comia. Era um fiapo.

Marcela, 10, cabelos curtos, olhos esbugalhados. Tinha dois companheiros inseparáveis: a fome e o medo.
Capetinha, 7, andava sempre de bermuda, descalço e sem camisa. Não sentia mais a quentura sob pés. Recentemente, começou a fazer pequenos serviços para o traficante de pedras sulfúricas.

McQueen, 5, filho do homem que a diarista mais amava. Era o único que recebia beijos e abraços da mãe.

***
Na noite do último fim de semana, Rosa foi vista num beco, enroscada com Chifrudo, que pagou para a dama umas cervejas e um ingresso para o show da banda Disco Inferno. 

Ela ainda não sabia, mas estava grávida de novo.

quinta-feira, 30 de julho de 2015

3x4 dos jornais brasileiros

Os jornais em dificuldades financeiras tendem a virar diários oficiais, pois é nas prefeituras e noss governos estaduais que eles vão mendigar quando estão severamente endividados e não encontram, por costume ou incompetência, outras formas de se manter.

A cegueira para “salvar” o veículo – muitas vezes a maior preocupação não é com o jornalismo, e sim com o próprio bolso – leva à paranoia. Se um repasse da prefeitura ou do estado atrasam, cogita-se mil e uma possibilidades para isto. “O estado não paga porque estamos dando mais espaço para a prefeitura”, “O governador (ou o prefeito) não está satisfeito por causa das matérias do final de semana”. E haja especulações.
Sem coragem para perguntar porque o repasse atrasou, o melhor é aplicar a censura. Mesmo que o atraso possa ter ocorrido porque o governo não está com tanto dinheiro assim e também tem que investir em outras áreas, além de empresas falidas.
Um dia, em um jornal em que trabalhei, um dirigente decidiu que não podia mais publicar reportagens contra um determinado governador. O mesmo diretor geral dizia, sem certeza nenhuma, que uma matéria sobre buracos em estradas é que tinha sido o motivo para o atraso do socorro financeiro, feito em forma de verbas publicitárias.
No mesmo dia da proibição, o prefeito de uma cidade do interior foi à redação. Carregava consigo a página da matéria sobre buracos na estrada e fotos de uma rodovia estadual esburacada, sem nenhuma manutenção. Ele queria apenas que se o jornal fosse dar continuidade a reportagens sobre este tema, que incluísse a estrada que cortava o seu município.

- Não tem ônibus escolar, não tem ambulância que resistam. À noite, ocorrem vários assaltos, os carros passam bem devagar por causa dos buracos e os motoristas são roubados. Tento fazer minha parte, mas a manutenção da estrada é de responsabilidade do governo estadual e não é realizada há muito tempo -, relatou o prefeito para dois editores e um colunista.

Enquanto ouvia isso, eu sofria ao pensar que ao dar dinheiro para o jornal, o governo do estado pode estar tirando de outras áreas e prejudicando um número bem maior de pessoas, crianças inclusive. Na ânsia de manter seus privilégios e a fachada de messiânico para os funcionários, o tal diretor geral esquece as consequências de seus atos para a sociedade e para o jornalismo.

Como se não bastasse, no mesmo dia ele mandou tirar uma foto de interesse público da capa porque desagradaria ao governador.

 Esse é um retrato 3 x4 da imprensa nacional.