domingo, 17 de outubro de 2010

A criança nasceu

Depois de 10 meses de trabalhos e pesquisas que envolveram 300 pessoas e 14 departamentos do grupo A TARDE, saiu a primeira edição do Massa!. Produto desenvolvido em parceria com a consultoria Cases i Associats é voltado para um mercado potencial de 1 milhão de novos leitores das classes C e D.

A equipe do Massa! é formada por Ricardo Mendes (editor executivo), eu, Ana Carolina Diniz (editora adjunta), Vado Alves e Pierre Themotheo (editores de arte). Marlene Lopes (editora de geral), Edmílson Ferreira (editora de esportes) e Izabela Machado (editora de bem viver e diversão).Os subs são: Ana Paula Ramos, Fernando Poffo e Ellen Alaver. Os repórteres são Beatriz Garcia, João Eça, Euzeni Daltro, Rodrigo Meneses, Rafael Thiago Nunes e Brenda Ramos. Os diagramadores são Moisés Souza Júnior, Genílson Lima Santos e David Matheus. Ilustradora: Lorena Moraes. Fotógrafos: Vaner Casaes e Lunaé Parracho.

O site do Massa! é jornalmassa.com.br.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

24 horas depois

 
A TARDE e Correio Braziliense têm capas semelhantes. Só que a do Correio foi feita 24 horas depois.

As melhores capas do day after das eleições

 
A melhor capa do dia seguinte das eleições é a do Estadão. Reproduz o clima em que Dilma e Serra entram no segundo turno. Muito boa as fotos. O Diário de Pernambuco tem uma solução gráfica interessante, mas fica só na perspectiva de Dilma. O Povo também se destaca com a saída de cena de um "coronel" com ares de modernidade.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

A capa de A TARDE

Ao ser convocado para a fechar a capa de A TARDE para as eleições na segunda-feira passada (estou fora da edição há dois meses, desenvolvendo um projeto para o Grupo), comecei a pesquisar as capas dos jornais americanos na última eleição presidencial. Trabalhava com duas possibilidades: a eleição de Dilma no primeiro turno e a prorrogação da disputa, que era o plano B. Se Dilma ganhasse, ela teria algo em comum com Obama, os dois seriam os primeiros presidentes - um negro, uma mulher.

As duas páginas tinham uma única coisa em comum: com a reeleição praticamente certa de Jaques Wagner, o que tiraria o aspecto de novidade. Optei por tratar da questão regional num fólio. A decisão de estar acima ou abaixo do logotipo ficou com a editora de Arte, Iansã Negrão. Optou por ser acima por ser uma capa temática, o que tiraria a obrigatoriedade de mantermos o projeto editorial de colocarmos acima do título, temas como tecnologia, educação e outros, que costuma ser mais pedidos pelo público do jornal.

Não tinha dúvida de que as eleições presidenciais, mesmo nos jornais regionais,  influem diretamente na vida dos eleitores de qualquer estado. Há uma visão equivocada de que para ser regional você tem que ser paroquiano - tinha gente no jornal que defendia que a principal matéria deveria ser sobre a escolha de dois senadores ligados ao PT, algo que até era um bom assunto, mas num segundo plano. Minha argumentação é simples: um jornal regional precisa de contextualização local, seja qual for o tema. Sem dúvida alguma, estava claro que a disputa presidencial seria a manchete.

Com o resultado e o segundo turno sacramentado, melhora ainda. Melhora ainda jogar a cobertura para frente, dando números, mas não fazendo deles o principal elemento da página.

No final da tarde de ontem, a primeira dúvida: usar fotos ou as charges de Simanca, com Serra muito parecido com o dono da usina nuclear do seriado Simpson e Dilma com peitos em sen tidos diferentes. Podia parecer provocação. No entanto, após mostrar a página para vários editores, ninguém teve a impressão de que estaríamos esculhambando os personagens. Além disso, as fotos eram óbvias demais.
Resolvido o problema do nível principal, faltava o rodapé.

As comuns listas dos mais votados, balanços e o campeão Tiririca foram fáceis de resolver. O detalhe final ficou pela escolha da foto de Lula e a chamada sobre ele, praticamente ignorado nas primeiras páginas dos jornais brasileiros. Era preciso mostrar e representar o que ele estaria sentindo diante da mudança que se processava nas hostes do PT: a vitória certa se transformara num jogo muito mais disputado. Pronto. É o que foi para rua e vocês podem ver na imagem que abre o texto.

O trabalho também tem a assinatura valiosa da designer Ludmila Cunha e é fruto do que foi apurado por uma centena de jornalistas.

Deu no NYT

Chamada das eleições brasileiras no New York Time e nota de rodapé

Capas eleitorais

 Jornais populares dão um show de bola nas suas capas. Para mim, as melhores capas sobre as eleições foram de O Dia e do Notícia Agora (ES).



quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Não é para ter raiva?

Nos anos 80 não havia um estudante de jornalismo, com tendência para o impresso, que não desejasse trabalhar no Jornal do Brasil. Concretizei esse sonho em maio de 1985, quando Dácio Malta, editor de Cidade, aceitou-me em sua equipe. Minha primeira missão consistia em fazer rondas pelas delegacias cariocas, registrando estelionatos, assaltos e assassinatos. O resultado da apuração era publicado diariamente com o propósito de mostrar que os índices de violência, na metade do primeiro governo Leonel Brizola, cresciam absurdamente. O trabalho inicial não era a melhor coisa do mundo, mas conviver numa redação com muitos dos principais jornalistas do país era o máximo.


No dia 31 de agosto de 2010 quando o jornal deixou de circular no formato impresso e migrou para a versão digital me senti distante dos colegas saudosistas que participaram do Dia do Afeto ao JB, no centro do Rio, ou daqueles que criaram blogs nostálgicos. O que senti foi raiva. Raiva da família Brito e de Nelson Tanure, o empresário baiano que comprou o direito de explorar a marca de jornal mais importante dos últimos 119 anos. Também me ocorreu uma pergunta. Por que nenhum dos responsáveis por afogar o jornal em dívidas fiscais e trabalhistas foi punido?

Lendo o blog de Jorge Antônio Barros, subeditor de Cidade de O Globo e meu contemporâneo na pomposa redação da Avenida Brasil, 500, encontrei números aterradores. Ele escreve que “não foi surpresa quando, em 1995, o Banco Nacional quebrou, e ninguém noticiou que o JB, só a esta instituição devia cerca de 50 milhões de dólares (...). Pouco depois, quebraria o Banco Econômico, e de novo lá estava o JB na lista dos maiores devedores, algo em torno de 10 milhões de dólares”.

Jorge acrescenta:“na virada dos anos 80 para os anos 90 afloraram as grandes crises financeiras no JB, os primeiros atrasos no pagamento de salários. Os bancos, que antes premiavam erros administrativos da empresa mediante sucessivos empréstimos, fecharam a porta para a família Brito. A circulação começou a cair vertiginosamente”.

Voltando ao dia 1º de maio de 1985, quando peguei minha carteira de trabalho assinada como “repórter III” lembro-me que estava radiante de felicidade. Afinal, passaria a conviver numa redação com jornalistas como José Gonçalves Fontes, chefe de reportagem que nos anos 60 se transformara em verbete da enciclopédia Delta-Larousse por denunciar fraude nas eleições da Guanabara e, a partir de então, acumulara prêmios como o Esso e o Maria Moors Cabot, conferido pela Universidade de Columbia. Nesta época, só a editoria de Cidade tinha 70 jornalistas, incluindo seis copidesques rigorosos que transformavam textos em obras-primas, com a paciência de explicar as mudanças para os mais jovens. O mesmo valia para o melhor pauteiro do país, Luciano de Moraes, que me ensinou a função.

A convivência com essa turma me transformou num jornalista obcecado pela apuração e pouco afeito a elogios. Fontes não cansava decontar como era difícil assinar uma matéria quando ele era repórter, pois o JB exigia texto perfeito, criatividade, boa apuração e relevância para dar ao jornalista o direito de colocar o nome nas páginas mais respeitadas da imprensa brasileira. Quem assinava matéria pagava uma chopada.

Saí do JB em setembro de 1987 para trabalhar em O Dia. Voltei pouco mais de 12 anos depois em fevereiro de 2000. Não encontrei mais a frota de Opalas Comodoros da mais cara empresa de táxi especiais do Rio, que durante um período serviu ao jornal – um exemplo dos muitos desperdícios e contratos questionáveis. Lembro que a largura dos veículos até então exclusivos dos aeroportos era maior do que as vielas das favelas, onde fazíamos matérias sobre o avanço do poderio do tráfico.

Da antiga geração, restavam poucos, a maioria já havia se transferido para O Globo. As equipes eram inexperientes e o prédio cheirava a esgoto, pois a tubulação não tinha manutenção. Salários atrasavam e os telefones chegaram a ser cortados. As greves de apoio aos colegas de outros jornais, realizadas em décadas anteriores, viraram protestos pelo básico: pagamento em dia e depósito do Fundo de Garantia. Fui demitido por fazer parte do comitê que fazia as reivindicações no mesmo dia em que saiu Marcos de Castro, redator que por seus conhecimentos participou da elaboração do Dicionário Aurélio. De lá para cá, a redação mingou. Tanure, ao contrário do prometido, investiu pouco e mal. Enterrou o jornal de papel e ainda faz marketing que investe no futuro, pagando pouco a meia-dúzia de profissionais terceirizados.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Exploração das praias


A questão da orla de Salvador, onde as barracas de praias estão sendo construídas, me fez lembrar das praias no Sul da Itália, onde muitas delas são exploradas por hotéis e restaurantes. Para entrar em áreas com espeguiçadeiras, sombreiros, seguranças e salva-vidas paga-se entre 8 euros (R$ 18,40) e 18 euros (R$ 41,40).

Existem espaços públicos - faixas entre 20 e 40 metros de extensão - , ao lado dos privados. Também impressiona que nos trechos públicos apareçam placas de riscs, de falta de guarda-vida.


A exploração desses espaços é muito antiga. Fiz a foto de uma placa que mostra que ocorre desde 1915.

De qualquer forma, apesar da infraestrutura, acho que tanto em Salvador, quanto na Ilha de Capri, Sorrento e Positano é necessário permitir que os banhistas tenham direito de usufruir mais e que privatização tem limites.
 As fotos de cima para baixo: 1) Área privada na Ilha de Capri. 2) Área pública em Capri.3) Área pública entre as áreas privadas em Sorrento. 4) Os preços das áreas de banho em Sorrento. 5) Início da exploração do local. 6) Capri e suas praias privadas.





quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Pompéia, Vesúvio e o Museu Arqueológico

O que mais me impressionou na visita à Itália foi Pompéia e os objetos que foram encontrados lá e estão em exposição no Museu Arqueológico Nacional de Nápoles, instalado em um prédio de 1615. A visita a eles e ao Vesúvio se complementam. Quem não vai a um deles perde a dimensão da grandeza dos seres humanos daquela época e da grande tragédia que se abateu sobre a região.

O material é fenomenal. Engloba os diferentes estilos de pintura existentes antes de Cristo; trabalhos lindíssimos de vidro, cuja técnica foi desenvovida no século 1 D.C; instrumentos cirurgicos e muito, muito mais. Fiquei fascinado.

Impressionou-me como o homem conseguiu desenvolver tudo isso com parcos recursos. Orgulhei-me da nossa espécie.

Vi que há muita coisa para se estudar e que aprendemos muito pouco. Eu, por exemplo, desconhecia as diferentes escolas de pintura dessa época. Nenhum professor falou sobre isso. Tive vontade de largar o jornalismo - cada dia mais burocrático - para pesquisar sobre essa área.

O acervo inclui uma máquina de desenrolar papiros, pois poucos milhares foram preservados pelas cinzas, após a erupção do Vesúvio, no ano 79. O equipamento ajudou a esclarecer muitos detalhes da vida naquela época.

Tudo isso é apenas uma das coleções existentes no Museu, que possui ainda a  Coleção Egípcia (composta de coleções privadas e que inclui peças de Pompéia e outras cidades da região de Campanha), as Epígrafes (com importantes inscrições gregas, etruscas e latinas), o Gabinete Secreto (inicialmente gabinete de objetos obscenos, que estava fechado), os Mosaicos (seção formada por fragmentos de decoração de pisos e paredes de Herculano, Pompéia e Stabiae, com emblemas, cenas e figuras de inspiração grega), além de exposições avulsas.

As fotos acima são de Pompéia. Ao lado e abaixo imagens da boca do Vesúvio, do início de minha escalada, do Museu Arqueológico de Nápoles, de um dosquadros e da máquina de desenrolar papiros.




























quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Um pedaço de Nápoles

A Via Tribunali é um manancial de sabores. Nela, concentram-se algumas das pizzarias e pâtisseries mais famosas da Itália. Pela estreita rua, que é a principal ligação leste-oeste do centro histórico de Nápoles, onde os pedestres disputam espaço entre vespas e carros que não obedecem a sinalização (não existe veículo que trafegue pela região que não tenha parte da carroceria amassada) é impossível resistir às tentações gastronômicas.

Com uma fachada acanhada, a Antica Pizzeria e Friggitoria Di Matteo, fundada em 1936 (Via Tribunali, 94), esconde dois salões onde se pode degustar pizzas de diversos sabores, que custam entre 3 (R$ 6,90) e 8 euros (R$ 18,40), e frituras, cujo paladar justifica o abandono temporário de dietas e preocupações com o corpo.

Dentre os diversos tipos de alimentos fritos, recomenda-se os panzarottis (massa frita recheada com mussarela), melanzanes (farinha de trigo e berinjela fritas), e , principalmente, o arancini (bolinho de arroz originado na Sicília, preparado com molho de tomate e recheado com carne, mussarela e ervilha). Os preços são convidativos: variam de 20 centavos (R$ 0,46) a 1 euro (R$ 2,30).

Di Matteo ostenta em suas paredes fotos do ex-presidente americano Bill Clinton, que esteve em Nápolis, em 1994, para uma reunião entre chefes de estado e quis experimentar uma pizza “verdadeira”. Também venera Diego Maradona, o ex-craque argentino que tantas alegrias deu para o time azul e branco da cidade, e mantém uma cabeça de louça do ex-jogador numa prateleira.

Um pouco mais adiante, para quem ainda tem espaço na barriga, aconselha-se um pitstop na Patisserie S.Capparelli, onde é possível comer tortelletes de limão (2 euros – R$ 4,60) e doces de frutas vermelhas, pistache, café. Não esqueça, porém, de experimentar o babà, que teria surgido na Polônia, mas que conquistou o mundo a partir de Nápoles e transformou-se em adjetivo para uma pessoa meiga.

Feito com gruma (farinha de trigo), esse pãozinho tem o poder de absorver bem o rum que é derramado sobre ele e que nos deixa com vontade de comer bem mais do que um. O preço é convidativo 80 centavos de euro (R$1,84) o pequeno e 1 euro (R$2,30), o grande.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Simplicidade

Maria Guimarães Sampaio, escritora tardia e fotógrafa, muito ligada à família Veloso, morreu quarta-feira, aos 62 anos, de câncer de mama. Ao fazer mudanças na página que estava editada sobre o assunto, conheci alguns detalhes da vida de Maria, cujas fotos estão em capas de discos de Caetano e Bethânia, assim como o seus livros - Estrela de Ana Brasila, Rosália Roseiral e Continhos para cão dormir I e II – e blog ( http://continhosparacaodormir.blogspot.com/ ), que originou os dois últimos livretos.

Hoje, a rádio Metrópole repetiu uma entrevista que ela e Paloma Amado deram aos apresentadores do programa "Roda a baiana", onde Maria, contadora de casos de Santo Amaro, relata uma história que me fez morrer de rir. Reproduzo-o:

Uma moça trabalhava numa casa de família em Santo Amaro. Todas as noites, ela sumia por algumas horas. Os dias se passaram e a patroa resolver perguntar o que ela fazia e para onde ela ia. A resposta foi simples e direta:

"Não tem nada de mais, não. Vou à praça, chupo um picolé, fodo e volto".

E a vida seguiu em frente.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Promoções e cupons para leitores dos anos 30

Pesquisa feita por Maurício Villela, chefe do arquivo de A TARDE, mostra que o jornal em 1934 já fazia promoções e sorteios para turbinar suas vendas. E que a modalidade "à imitação do que praticam os jornaes da Europa e da América" não surgiu com os populares no Brasil. O jornal também não tinha vergonha de anunciar a promoção na primeira página. Surpreende ver que o modelo da época se aproxima ao que é feito hoje, inclusive com a proposta de fazer os leitores juntarem cupons para fidelizá-los. A diferença é que o jornal comprava um terreno e mandava os engenheiros da firma Manso, Cabra & Cia, que funcionava no mesmo prédio da sede de A TARDE, contruir a residência. O prêmio ofertado em 1934 (e pelo menos até 1937) era uma casa própria. O texto de divulgação é saboroso. Transcrevo um trecho:
"A TARDE" fará, desde logo edificar num dos sítios mais pittorescos da cidade no salubre bairro de Brotas, à villa Rio Branco, que offerecerá alem dos encntos da natureza, o conforto de possuir o bonde electrico à porta". Fantástico. Um belo passeio no tempo.

sábado, 17 de abril de 2010

Camisas 10

Leia abaixo a crítica que fiz para o livro "Os 11 maiores camisas 10 do futebol brasileiro", a pedido da editora do caderno 2 de A TARDE, Patrícia Moreira.

A Editora Contexto aproveita a proximidade da Copa do Mundo para lançar o livro “Os 11 maiores camisas do futebol brasileiro”, do jornalista e apresentador da Sportv Marcelo Barreto. É a sequência da série iniciada no ano passado com “Os 11 maiores técnicos...”, de Maurício Noriega, também da emissora de canal a cabo, que causou muita polêmica. É aí que reside o principal objetivo do livro – e dos que virão nos próximos meses, escalando seleções de laterais, centroavantes, goleiros, volantes: se vender pela discussão que gera qualquer lista restrita.

Nos meus tempos de menino, no campo improvisado do Larguinho, no centro velho do Rio, comparações sempre causaram debates acalorados – e, às vezes brigas -, mesmo quando os “craques”em voga eram Fernando Banana e Mauro Gordo.

O que Barreto faz, na realidade, é uma pesquisa que transforma os seus jogadores preferidos em verbetes, centrados nas trajetórias profissionais, exaustivamente reveladas nos jornais e nos 30 livros que ele inclui na bibliografia. O trabalho iniciado com explicações sobre os critérios para definir o que é um camisa 10 também serve como justificativa para deixar de fora da relação jogadores que fortaleceram a mítica em torno do número.

Como complemento, há entrevistas de ex-atletas e técnicos que conviveram com os homenageados. Aliás, o que poderia algo genial se transforma em elogios fáceis, poucas revelações e conversas apressadas, como a que é travada com Leonardo, ex-lateral do Flamengo e atual técnico do Milan, sobre seu parceiro Raí.

Ao escalar Zizinho, Pelé, Ademir da Guia, Rivellino, Dirceu Lopes, Zico, Raí, Neto, Rivaldo, Ronaldinho Gaúcho e Kaká nas 256 páginas do livro de largas margens brancas, o mineiro Barreto foca, prioritariamente, o futebol do Sudeste, onde a maioria dos jogadores nasceu ou se projetou para a fama.

Ao Nordeste, por exemplo, restam referências a Rivaldo e a duas histórias que tiveram como palco a Bahia. Sobre o jogador pernambucano, ressalto o trecho que o humaniza e não está relacionado à sua atividade nos campos de jogo, uma raridade nos perfis. “Com o dinheiro que ganhou no Brasil e na Europa, mandou asfaltar as ruas do quarteirão onde cresceu, em Paulista (município da Grande Recife), comprou a melhor casa da rua e encheu-a de empregados que são proibidos de acordar a mãe – ela sempre dormiu até tarde, mas precisava sair cedo da cama para cuidar da família”.

Sobre a Bahia, o manjado episódio da façanha de Nildo, o homem que evitou o milésimo gol de Pelé, e a profecia feita por um pai de santo, que marcou a vida de Zizinho, durante a passagem do Flamengo por Salvador.

Enfim, não é na discussão que gira em torno da inclusão de Neto, cuja carreira acabou antes dos 30 anos, com brilho apenas no Corinthians, ou de qualquer outro camisa 10, que o livro desperta algum interesse. Se há algum mérito, reside em apresentar de uma maneira objetiva um pouco da história do futebol para novas gerações de torcedores.

segunda-feira, 29 de março de 2010

IVC de fevereiro - as maiores quedas

Além das quedas do Meia Hora e de O Dia, citados em postagem anterior, outra grande queda entre os 30 maiores jornais do país foi a do Diário de S.Paulo, comprado por J. Hawilla das organizações Globo. Em fevereiro de 2009, o jornal estáva em 17º lugar, venda média diária de 60.629. Doze meses depois, ocupa a 25ª colocação, com média de venda de 42.782 jornais.

IVC fevereiro - maiores altas

As maiores altas, comparando-se fevereiro de 2009 com fevereiro de 2010, entre os 30 principais títulos foram:

10º - Aqui (MG, MA, PE, DF - consolidado) - 80,80% (128.700)
13º - Dez Minutos (AM) - 73,02% (79.485)
21º - O Tempo (MG) - 35,87% (34.121)
28º - Hoje em Dia (MG) - 27,96% (40.537)

Ressalto ainda o crescimento do
42º - Correio (BA) 71.29% (25.574)
46º -Aqui (PE) 304,51% (23.219)

IVC de fevereiro - a gangorra dos jornais

As principais mudanças entre os 20 maiores jornais brasileiros em relação ao mês anterior, segundo o IVC de fevereiro de 2010:

- Extra passou O Globo (ambos são do mesmo grupo). Extra foi para 3º (271.830 exemplares/dia, em média) e o Globo (251.216) caiu para 4º.

- Estado de São Paulo inverteu posição com Zero Hora. Estadão é o 5º (227.003) e ZH o 6º (185.307)

- Correio do Povo também subiu uma posição. É o 7º (154.070)

- Meia Hora e O Dia tiveram quedas de vendas. MH passou de 7º para 8º (144.057). E O Dia manteve-se em 18º, mas sua vendagem caiu de 57.148 para 55.736. Interessante ver que em um ano os dois jornais da Editora O Dia tiveram grandes tombos. O Meia Hora despencou de 5º para 8º, de 218.856 para 144.057. Queda de 74.799 exemplares/dia, em média, ou de 34,18%. O Dia teve desempenho pior, caiu de 11º (92.183) para 18º (55.738). Ou seja - 39,54%.

- Dez Minutos (AM) pulou de 15º para 13º (79.485). O crescimento em um ano foi de 73%. Antes era o 23º (45.939)

- Estado de Minas (75.713) passou de 16º para 14º

- Daqui (GO) caiu de 13º para 15º (74.561)

- Expresso da Informação (RJ- Infoglobo), caiu de 14º para 16º (72.891).

- Correio Braziliense era o 20º e passou para 19º (55.284), invertendo a posição com o Valor (53.933)

IVC de fevereiro - em um ano nove jornais a menos

Em fevereiro de 2009, 101 jornais estavam cadastrados no IVC. Doze meses depois, temos 93. O que aconteceu? Cinco jornais da rede Bom Dia (Sorocaba, São José do Rio Preto, Jundiaí, Bauru e Fernandópolis - Marília ainda não existia) deixaram de divulgar suas vendagens individuais. Outros quatro se desfiliaram ou não mandaram os dados a tempo de ser incluído no ranking do mês.

São eles Tribuna de Petrópolis (RJ - a última vez que saiu foi em agosto de 2009, quando vendia 1.724 jornais diários), Estadão (RO- saiu em fevereiro de 2009), Tribuna Independente (AL - a última vez que apareceu foi em dezembro de 2009) e Diário de Natal (RN , que até o mês passador era o 90º colocado).

De lá pra cá, comparando-se a relação de fevereiro de 2009 com o mesmo período de 2010, só um jornal se filiou. Foi o Aqui-MA. Atulamente, o jornal maranhanse que faz parte da rede de populares dos Diários Associados está em 32º do ranking, com venda diária média de 39.400 exemplares.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Notícia de jornal

Desmentindo a afirmação de Chico Buarque de que "a dor da gente não sai no jornal". Edição de hoje (10/3/2010).

segunda-feira, 8 de março de 2010

Populares e jornalões: vendas e estratégias

Em vez de apresentar os números do IVC de janeiro, mostrando os veículos de comunicação que subiram ou desceram no ranking, apresento comparação entre os 10 maiores jornais populares e os 10 jornalões que mais vendem no país. O baixo percentual de venda avulsa (em bancas, supermercados, farmácias) dos jornais que se apresentam como de repercussão nacional chama atenção, como veremos adiante.

Vamos começar pelos populares. A seguir os 10 mais vendidos e o lugar que ocupam no ranking do IVC: Super Notícia (2º), Extra (3º), Meia Hora (4º), Diário Gaúcho (9º), Aqui consolidado (a soma dos Aqui MG, PE, DF, MA - 10º), Lance! (11º - esportivo incluído como popular por ter preço baixo, linguagem acessível e seguir a política de promoções do segmento), Agora SP (12º), Daqui- GO (13º), Expresso da Informação (14º) e Dez Minutos (15º).

A soma da venda média diária desses jornais é 1.399.214 exemplares, sendo que 97,9% são feitas exclusivamente em pontos de venda (ver gráfico abaixo).

Somente o Lance! e o Agora SP têm assinaturas. As assinaturas do Lance! - 3.451 - representam 2,8% da venda total (121.314). O único que realmente investe nesse modelo é o Agora, cujos assinantes representam 28,8% do total de leitores, ou seja, quase um terço do total. O popular do Grupo Folha é o 18º em assinatura entre 77 jornais no ranking do IVC.

Outros sete títulos não têm assinaturas. Os vários Aqui, do Diários Associados, possuem, curiosamente, dois assinantes (0,0016%).

Vale destacar, que mesmo sem assinaturas, a venda dos populares é superior 1,10% a dos jornalões. Eles também fizeram o mercado crescer e de alguma forma estimulam o aumento do índice de leitura. Mesmo assim, ainda há preconceito contra os populares, principalmente nas universidades.

Clique no quadro para ver a tabulação dos populares.







Sobre os jornalões

Os 10 mais vendidos e o respectivo lugar no ranking do IVC, em janeiro de 2010, são Folha de S. Paulo (1º), O Globo (3º), O Estado de S.Paulo (5º), Zero Hora (6º), Correio do Povo - RS (8º), Estado de Minas (16º), Valor (19º), Correio Braziliense (20º), O Tempo - MG (21º) e Gazeta do Povo- PR (22º).

A venda avulsa da campeoníssima Folha é de 7,53% do total, a terceira menor proporção entre venda em bancas e assinaturas no universo dos 10 maiores qualities do país. Se só tivesse os 21.538 leitores que compram o jornal motivado diariamente por sua primeira página, a Folha estaria em 49º lugar entre os 94 jornais que aparecem no ranking de vendas totais do IVC.

Piores proporções têm ainda o Correio do Povo (3,7%) e o Valor Econômico (4,39%). A venda avulsa absoluta do Valor é a menor: 2.482 exemplares.

As carteiras de assinaturas dos jornalões variam de 78,92% (Correio Braziliense) a 95,61% (Valor). E a venda avulsa representa, no somatório dos principais veículos deste segmento 12,10% do total.

Nos populares, que têm estratégia diferenciada e que precisam conquistar os leitores todos os dias nas bancas, o índice passa para 97,92% do total.

A venda em assinatura, não custa lembrar, está baseada em descontos, promoções e uma complicada logística, o que encarece os custos de produção. No entanto, há o conforto de se manchetar com temas de menor apelo e muitas vezes a opção por títulos burocráticos.
Clique no quadro para ver a tabulação dos jornalões.




quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Homenagem ao trio elétrico

Esta página fechou a cobertura de A TARDE na terça-feira de Carnaval. Ela foi idealizada por mim e executada pelo repórter Juracy dos Anjos, a fotógrafa Manuela Cavadas, o pessoal da editoria de Arte (Filipe Cartaxo, Iansã Negrão) e designer Vado Alves.

A proposta foi ouvir 60 foliões de diferentes estados e países para que dessem seu depoimento sobre o Carnaval em que se comemorou os 60 anos do trio elétrico, invenção genial de Dodô e Osmar. Pegamos os depoimentos de todos e selecionamos os melhores.

Tive a ideia de fazer isso quando vi, no sábado, a passagem do trio elétrico com o DJ Bob Sinclair. O rosto de europeus e brasileiros que seguiam Sinclair formavam um mosaico interessante, que resolvi associar ao trio.

Após explicar o que eu queria, Iansã e Filipe fizeram pesquisas e encontraram no Flickr um cartaz publicitário com textura semelhante. O resto foi trabalho braçal de edição e de tratamento de 60 fotos.

Embaixo da fubica o nome, idade, profissão e local de origem de todos os foliões. Nos confetes, as frases em destaque. Gostei muito do resultado.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

IVC de dezembro

Os seis jornais mais vendidos do país, mantiveram suas posições em relação ao mês anterior, segundo dados do IVC de dezembro. Pela ordem: 1º Folha de S.Paulo, venda média diária 289.260, com queda de 2,89% em relação ao mês anterior; 2º Super Notícia – MG (282.503, queda de 0,94%), 3º O Globo (251.944, queda de 0,75%); 4º Extra (222.545, queda de 3,34%); 5º O Estado de S.Paulo (221.251, alta de 3,67%) e 6º Zero Hora (185.713, alta de 1,19%).

Com relação ao mesmo período do ano passado, O Globo caiu 14,10%. Os outros variaram entre queda de 3,40% (Folha) a um crescimento de 0,55% (Estadão).

Outros dados interessantes: os principais jornais populares do Rio tiveram queda em relação ao mês anterior, variando de 0,32% (Expresso da Informação) a 5,54% (Meia Hora). O Meia Hora (115.456 exemplares vendidos em média, por dia) teve queda no mesmo patamar (5,25%) que o outro jornal da empresa que o publica, O Dia (58.632). O ex-principal diário da editora, que já rivalizou em vendas com a Folha, hoje ocupa a modesta 18ª posição no ranking. Na comparação com dezembro de 2008, os dois tiveram reduções expressivas: - 35,35% e -39,42%. Será que foi isso que motivou a saída de Gigi Carvalho da presidência do grupo?

Não custa relembrar a história de O Dia. Da década de 40 a 1983, ele pertenceu ao ex-governador do Rio, Chagas Freitas, era um jornal do tipo “espreme e sai sangue” e vendia, sem muito marketing e esforço, 180 mil exemplares por dia quando foi vendido para Ary Carvalho, que o comprou com a ajuda do ministro Mário Andreazza e algumas construtoras. Ary determinou a reforma editorial do jornal, em 1987. Contratou Dácio Malta, do JB, para editor-chefe, aumentou salários e levou para O Dia profissionais do Jornal do Brasil, jornal de maior prestígio à época, O Globo, Última Hora, que agonizava, e outros veículos. As mudaças levaram o jornal a vender mais de 900 mil exemplares aos domingos e 450 mil nos dias de semana, no início dos anos 90.

Decisões equivocadas (a de partir para uma disputa com O Globo, o fechamento das edições regionais e mudanças na linha editorial, dentre elas), da então editora-chefe Ruth Aquino no comando da redação, fizeram as vendas do jornal despencar. Outro fator contribuiu para isso, o surgimento do Extra, do mesmo grupo de O Globo.

Ainda sobre populares cariocas, levando em consideração minha tese que os jornais esportivos se encaixam nessa categoria, vale registrar que o Vencer, vencer, vencer, voltado para a torcida do Flamengo, passou da 31ª posição para a 23ª. São 46.838 exemplares/dia, o que representa crescimento de 20,88% em relação ao mês anterior e de 175% (o segundo maior aumento entre os 95 jornais que constam na lista do IVC, em relação a dezembro de 2008) – o maior crescimento foi registrado pelo também popular Aqui (PE), cujas vendas subiram 295,51%, comparando-se com o ano anterior. É uma média de 20.780 exemplares/dia. O veículo é o 53º do ranking.

Grandecrescimento no mesmo espaço de tempo também foi registrado pelo popularzão do Amazonas, o Dez Minutos (118,93%, 71.052 exemplares e 16º do ranking).

Para finalizar, algumas disputas regionais:

Rio Grande do Sul – Zero Hora (6º, 185.713) x Correio do Povo (7º - 153.886 exemplares) x Diário Gaúcho (9º, 139.628, mesmo grupo da ZH).

Minas – Super Notícia (2º, 282.503) x Aqui (MG- Consolidado – 123.962 – 11º) x Estado de Minas ( 14º, 75.380) x O Tempo (21º, 47.588). x Hoje em Dia (29º, 41.047)

Pernambuco – Jornal do Commercio (30º.40.925) x Diário de Pernambuco (48º, 22.227) x Aqui (PE) (53º, 20.780)

Ceará – Diário do Nordeste (28º, 41.213) x O Povo (42º25.175)

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

AFP pede desculpas. EFE fica em silêncio

O diretor regional da Agência France-Presse (AFP) para a América Latina enviou, às 23h30 (horário de Salvador) para A TARDE nota desculpando-se pela distribuição equivocada da foto do terremoto da China como se fosse a da tragédia no Haiti. A agência EFE, que também distribuiu a foto, permanece em silêncio. Eis a nota na íntegra:

Montevideo, 15/1/2010

"Bom dia. Apresentamos nossas desculpas pelo envio, em nosso serviço, de uma foto errônea publicada em sua edição de 14 de janeiro.

Algumas horas após o anúncio do terremoto no Haiti, nosso escritório de Washington procurou recuperar imagens por diferentes fontes, enquanto nossas equipes de fotógrafos e jornalistas começavam a se mobilizar em condições muito difíceis, sem possibilidade de comunicação. Várias fotos foram, então, obtidas no site de relacionamentos Twitter e enviadas com uma legenda precisando a fonte e, ao mesmo tempo, a nossa incerteza de poder certificar sua origem. A maior parte das imanges foram, efetivamente, tiradas após a catástrofe, mas duas delas se revelaram falsas. Uma dessas fotos mostrando os danos causados pelo sismo foi, na realidade, tirada após um tremor de terra no Chile, tendo sido retomada pela AFP e outras agências.

Quando o serviço foto da AFP se deu conta da manipulação, duas horas após o envio das imagens, foi transmitida uma nota de alerta a todos os nossos clientes pedindo que não as utilizassem e as invalidassem. Elas foram também retiradas de nosso site ImageForum.

Este erro, eu sei, causou sérios transtornos. Estamos desolados. Acreditem, estaremos vigilantes para não repeti-lo. Em seguida ao incidente, decidimos reforçar nossos sistemas de verificação para que este tipo de episódio não volte a acontecer, além de estudar a forma de melhorar a eficácia de nossos alertas junto a nossos clientes.

Cordialmente,

Francis Kohn, diretor regional para América Latina

Foto fraudada - parte II

Capa e página interna de A TARDE que tratam da questão da foto fraudada










Fraude coletiva

Inúmeros jornais e sites do Brasil e do mundo publicaram entre terça e quarta-feira suposta foto do terremoto do Haiti. Ela foi distribuída por pelo menos duas agências - EFE e AFP (France-Presse). Na verdade, a foto que ganhou a capa de várias publicações, incluindo A TARDE, e destaque em sites como o do Daily News e Washington Post era falsa. Tratava-se de uma imagem do sismo ocorrido na China, em 2008.

A fraude foi descoberta pelo diretor de redação do jornal Zero Hora (RS), Marcelo Rech. E doeu como um soco no estômago dos editores de A TARDE e, com certeza, nos vários colegas de ofício que confiaram na credibilidade das agências. Para resumir, A TARDE decidiu contar a história da fraude, questionar o mau uso das novas tecnologias de comunicação, reconhecer o erro e pedir desculpas aos leitores em uma página inteira, com chamada na capa. Guardarei esse material com muito cuidado. É excelente como ensinamento e utilíssimo para reflexão.


A decisão de A TARDE ganhou repercussão. A Zero Hora pediu para que enviássemos exemplar do jornal para que eles examinassem em um seminário interno a nossa reação. Até onde sei, eles divulgaram um artigo de Marcelo Rech na internet, que foi descoberto pelo fotógrafo Fernando Vivas. Vivas comentou com o repórter Valmar Hupsel , que alertou a secretaria de redação. Ciente do erro, tratamos de repará-lo com dignidade. As agências de notícias, porém, se recusam a admitir o erro de transmitir o material açodadamente. Vale lembrar que até o momento em que escrevo esse texto, vários jornais que publicaram a foto ainda não sabem da fraude.

Jornais publicam foto falsa do Haiti enviada por agências

Valmar Hupsel Filho

Foto publicada ontem em A TARDE e em incontáveis jornais e sites do Brasil e do mundo para ilustrar a matéria sobre o terremoto ocorrido na última terça-feira no Haiti é falsa. A imagem, na verdade, registra um sismo ocorrido em maio de 2008, na China. O material fotográfico foi distribuído pelas agências de notícias Agence France-Presse (AFP) e EFE e reproduzidas em meios de comunicação em diversos países.

O autor da descoberta da fraude foi o jornalista Marcelo Rech, diretor da RBS – rede de comunicação gaúcha responsável pela edição do jornal Zero Hora, que publicou a fotografia na página 3 da edição de ontem. “Desconfiei da imagem e lembrei que tinha visto a mesma foto no Dailly Telegraph, em janeiro, numa matéria sobre o terremoto na China. Coloquei ‘Earthquake (terremoto) China’ no google imagens e estava lá”, disse.

Rech conta que até ontem à noite diversos veículos, a exemplo dos respeitáveis Washington Post e Daily News, não haviam percebido o equívoco. Além de A TARDE, inúmeros jornais estamparam a foto na capa da edição de ontem, como o Diário do Comercio (SP), Hoje em Dia (MG), Diário de Natal (PB), Ottawa Citizen (Canadá), El Mercurio (principal jornal do Chile). Outros publicaram a mesma foto com destaque em páginas internas, como Correio (BA) e Extra (RJ).

Equívoco - A responsável pelo setor comercial da agência de notícias AFP, Magali Gonzalez, reconheceu que houve erro no envio da fotografia. Depois de entrar em contato com o escritório da AFP para a America Latina, em Montevidéu (Argentina), Gonzalez disse que a imagem foi disparada para diversos meios de comunicação com a legenda informando que ela foi capturada do site de mensagens instantâneas Twitter e foi cadastrada como sendo “supostamente” do terremoto ocorrido em Porto Príncipe, capital do Haiti. A TARDE fez download da imagem às 15h49 de quarta-feira.

A foto tinha uma legenda, em inglês, que, traduzida para o português, informava: “ imagem obtida através do Twitter supostamente mostra construções destruídas em 12 de janeiro de 2010 em Port-au-Prince, depois que um enorme terremoto medindo 7,0 abalou a empobrecida nação caribenha de Haiti, derrubou prédios, causando danos generalizados e pânico em funcionários e testemunhas da AFP. “O problema é que ninguém lê legenda de foto. Ainda mais em inglês”, justifica Gonzalez.

Já o delegado da agência de notícias EFE no Brasil, Jaime Ortega, informou que o primeiro fotógrafo chegou ao Haiti às 15 horas (horário de Brasília) de quarta-feira. Segundo ele, no período entre as 19h50 de terça-feira, quando aconteceu o terremoto, e as 15 horas de quarta, a agência retransmitiu fotos do site local www.radioteleginenhaiti.com. Na página inicial deste site consta uma mensagem, em inglês, em que o seus responsáveis não se responsabilizam pelas imagens porque estava recebendo fotos do mundo inteiro. Apesar do alerta, a agência distribuiu a fotografia do terremoto na China como se fosse o do Haiti para meios de comunicação de diversos continentes.

Ortega informou que a EFE recebeu a imagem falsa às 0h55 de quarta, e que, às 8h44 da manhã do mesmo dia, recebeu aviso de que a imagem em questão estava anulada. Não houve anulação do despacho. A TARDE, por exemplo, baixou imagem da EFE, às 16h09, sem que a agência tenha feito qualquer aviso de anulação. Na legenda da fotografia havia indicação de que o site www..radioteleginenhaiti.com seria a fonte. “Não sabemos ainda como a foto foi parar lá, mas pode ter sido um hacker que colocou a imagem na página”, disse Jaime Ortega.

Imediato - O PhD em Sociologia e professor da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia, Marcos Palácios, analisa que este caso demonstra “a dupla face” da tecnologia. “Hoje, há uma quantidade enorme de informação circulando, mas muitas vezes não se sabe a procedência delas, o que acaba criando este tipo de ruído”, disse. Ele ressalta que casos como este reforçam a necessidade da presença do jornalista no trato com a informação, para checar a veracidade.

“Este é um reflexo da cultura do tempo imediato, onde a matéria tem que estar publicada quase no instante em que o fato está acontecendo”, avalia o doutor em comunicação e professor de fotografia da faculdade de Jornalismo da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), José Afonso Júnior. “A velocidade é o valor-notícia, muitas vezes mais valorizada que a informação bem apurada”.

De acordo com o estudioso, o avanço da tecnologia em telefones celulares permitiu que qualquer pessoa tenha uma câmera fotográfica no bolso. Mas, contraditoriamente, apura-se pouco a procedência das informações, mesmo com toda a facilidade oferecida pela tecnologia”, comenta Afonso Júnior.

“Manipulação de imagens existe desde que existe a fotografia”, afirmou o pesquisador pernambucano. Ele lembra de casos recentes, como as primeiras informações sobre o acidente com o Boeing da TAM, no final de 2007. Na ocasião, o site UOL chegou a publicar uma foto em que era mostrada uma pessoa pulando do avião. Mais tarde verificou-se que a imagem era manipulada.

O rastro escuro da mentira virtual

Florisvaldo Mattos - Editor-chefe de A TARDE


Na violenta trepidação do assombro com que a tragédia do Haiti se apossou das pessoas em todo o mundo, sem muito tempo e calma para analisar textos e imagens, A TARDE viu-se compelida a cometer o mesmo equívoco em que incidiram importantes meios de comunicação brasileiros e internacionais, à base do que fora divulgado por prestigiosas agências de notícia, tais como Associated Press, France Presse e a espanhola EFE, que retransmitiram para o mundo foto de grande carga dramática divulgada pelo Twitter. É a que A TARDE estampou em sua primeira página ontem, e era uma mentira, uma fraude, distribuída no torpor que causaram as primeiras notícias e imagens do terremoto em Porto Príncipe, capital do Haiti.

No mesmo engano, propiciado pela facilidade com que se manuseiam recursos de comunicação por redes sociais na internet, em grande parte delas sem a responsabilidade que não deve prescindir a divulgação de informações a públicos cada vez mais delas necessitados, se viram enredados jornais como o brasileiro Zero Hora e o americano Washington Post. Na verdade, a foto transmitida falsamente pelo Twitter não era do Haiti, mas de aterradores danos causados por terremoto na China em 2008, que arrasou a província de Sichuan.

A realidade com que se defronta o mundo da comunicação nos dias de hoje com uma formidável cartografia de riscos permitidos pelo manejo irresponsável da informação por ferramentas virtuais, como blogs, microblogs e outras formas de divulgação veloz e instantânea, sustentada por tecnologias de ponta cada vez mais avançadas, porém descomprometidas com procedimentos que norteiam o jornalismo profissional, há mais de um século, uma conquista da revolução do humanismo, expõe ameaças assustadoras apontadas contra os pilares éticos que inspiram e sustentam a histórica credibilidade de sua prestação de serviço a bem da evolução do homem e da sociedade.

Diante da fragilidade a que esse laboratório de inseguranças expõe a humanidade, espalhando-se irrefreavelmente por meio da internet, sem que no momento se divisem fórmulas de impor-lhe freios e disciplinamento, cabe ao jornalismo impresso alçar-se e, com a autoridade conquistada ao longo dos anos, advertir dos perigos que a desinformação e a ação degenerescente dos que usam tais redes sociais podem causar universalmente num crescendo às pessoas, esforçando-se para que a credibilidade da informação se instale num campo que ainda a desconhece.

Enquanto o mundo, comovido e impotente, assistia o desastre que a natureza revolta infligia ao povo do Haiti, com as mais desencontradas informações e o desespero circulando nas primeiras horas de sua eclosão, elementos irresponsáveis se valiam de um instrumento que entusiasma e encanta o planeta, para criminosamente divulgar uma imagem que induzia os meios de comunicação ao erro, confiados no prestígio e na força das agências que a propagavam.

Em face disso, apoiada na credibilidade que informa, há quase um século, a sua relação com seus leitores, A TARDE sente-se no dever de pedir-lhes desculpas, permanecendo no seu cotidiano de produzir e publicar informações com responsabilidade e seriedade.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Tribuna da Bahia: apelo ao Senhor do Bonfim

Tribuna da Bahia mistura festa do Bonfim com terremoto e faz manchete e capa engraçadas

Antigos recursos

Capa do Extra usou recursos que foram difundidos pelo Jornal da Tarde: capa pôster e legenda, sem manchete.

Tragédia em plano aberto

Plano geral da tragédia foi evitado na maioria dos jornais, menos em A TARDE. Boa também é a história do capitão baiano que se salvou da tragédia porque estava cansado e pediu para outro colega acompanhar Zilda Arns.

Foto impactante

A imagem mais impactante, na minha opinião, está na capa do The Wall Street Journal