Florisvaldo Mattos - Editor-chefe de A TARDE
Na violenta trepidação do assombro com que a tragédia do Haiti se apossou das pessoas em todo o mundo, sem muito tempo e calma para analisar textos e imagens, A TARDE viu-se compelida a cometer o mesmo equívoco em que incidiram importantes meios de comunicação brasileiros e internacionais, à base do que fora divulgado por prestigiosas agências de notícia, tais como Associated Press, France Presse e a espanhola EFE, que retransmitiram para o mundo foto de grande carga dramática divulgada pelo Twitter. É a que A TARDE estampou em sua primeira página ontem, e era uma mentira, uma fraude, distribuída no torpor que causaram as primeiras notícias e imagens do terremoto em Porto Príncipe, capital do Haiti.
No mesmo engano, propiciado pela facilidade com que se manuseiam recursos de comunicação por redes sociais na internet, em grande parte delas sem a responsabilidade que não deve prescindir a divulgação de informações a públicos cada vez mais delas necessitados, se viram enredados jornais como o brasileiro Zero Hora e o americano Washington Post. Na verdade, a foto transmitida falsamente pelo Twitter não era do Haiti, mas de aterradores danos causados por terremoto na China em 2008, que arrasou a província de Sichuan.
A realidade com que se defronta o mundo da comunicação nos dias de hoje com uma formidável cartografia de riscos permitidos pelo manejo irresponsável da informação por ferramentas virtuais, como blogs, microblogs e outras formas de divulgação veloz e instantânea, sustentada por tecnologias de ponta cada vez mais avançadas, porém descomprometidas com procedimentos que norteiam o jornalismo profissional, há mais de um século, uma conquista da revolução do humanismo, expõe ameaças assustadoras apontadas contra os pilares éticos que inspiram e sustentam a histórica credibilidade de sua prestação de serviço a bem da evolução do homem e da sociedade.
Diante da fragilidade a que esse laboratório de inseguranças expõe a humanidade, espalhando-se irrefreavelmente por meio da internet, sem que no momento se divisem fórmulas de impor-lhe freios e disciplinamento, cabe ao jornalismo impresso alçar-se e, com a autoridade conquistada ao longo dos anos, advertir dos perigos que a desinformação e a ação degenerescente dos que usam tais redes sociais podem causar universalmente num crescendo às pessoas, esforçando-se para que a credibilidade da informação se instale num campo que ainda a desconhece.
Enquanto o mundo, comovido e impotente, assistia o desastre que a natureza revolta infligia ao povo do Haiti, com as mais desencontradas informações e o desespero circulando nas primeiras horas de sua eclosão, elementos irresponsáveis se valiam de um instrumento que entusiasma e encanta o planeta, para criminosamente divulgar uma imagem que induzia os meios de comunicação ao erro, confiados no prestígio e na força das agências que a propagavam.
Em face disso, apoiada na credibilidade que informa, há quase um século, a sua relação com seus leitores, A TARDE sente-se no dever de pedir-lhes desculpas, permanecendo no seu cotidiano de produzir e publicar informações com responsabilidade e seriedade.
GJOL em casa nova
Há 11 anos
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