segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Vade retro, mulambada*


Quem compra fruta estragada?
Quem gasta dinheiro com o que não vale nada?
Quem aposta milhões em empresa saqueada?
E em linha de produção estagnada,
arrebentada,
amaldiçoada?

Se a intenção é "lavar a bolada"
Sete um, preste atenção:
a jogada é pra lá de manjada

Alô, pastor, cuide de sua manada!
Publicitário, teu papo não agrada
Político que come pela beirada
E empreiteiro que gosta de grana facilitada
Tô de olho nessa bocada

Você que finge ajudar a moçada
Mas só pensa na comissão regada
Saiba que Irmã Dulce, abençoada
Só teve uma, camarada

É por isso que eu canto:
Vade retro, mulambada!
Vade retro, mulambada!



*A novela da venda de um jornal inspirou a letra desta música

Pequenas histórias do Quinto dos Infernos V


Rosa exalava enxofre no Quinto dos Infernos. Ela tinha seis filhos de seis companheiros fugazes. Virava diarista quando a situação apertava muito.

Entre priorizar as farras ou as crianças, preferiu o que dava menos trabalho.

***

Ana Hot fugiu de casa aos 15 anos.

Lilica, 13, foi matriculada na escola para receber a Bolsa Inferno. Mal sabia ler.

Adriana, 12, tinha uma doença que consumia o fígado. Quase não comia. Era um fiapo.

Marcela, 10, cabelos curtos, olhos esbugalhados. Tinha dois companheiros inseparáveis: a fome e o medo.
Capetinha, 7, andava sempre de bermuda, descalço e sem camisa. Não sentia mais a quentura sob pés. Recentemente, começou a fazer pequenos serviços para o traficante de pedras sulfúricas.

McQueen, 5, filho do homem que a diarista mais amava. Era o único que recebia beijos e abraços da mãe.

***
Na noite do último fim de semana, Rosa foi vista num beco, enroscada com Chifrudo, que pagou para a dama umas cervejas e um ingresso para o show da banda Disco Inferno. 

Ela ainda não sabia, mas estava grávida de novo.