domingo, 8 de fevereiro de 2009

José (17/03/2007)

"Qualquer toque traz em si a centelha do desejo" foram as últimas palavras do colombiano José Ortega de Menezes antes de enterrar-se dentro de si. O peito ardia, a cabeça latejava, o corpo todo tremia, quando ele tomou esta decisão.

Não via mais graça no mundo. Parou de comer e abandonou o emprego que adorava. As dores, que tiraram sua alegria, fizeram seus olhos azuis mudar de cor.

Os amigos bem que tentaram ajudá-lo, mas, com o tempo, até os mais persistentes desistiram. José agora vivia prostrado numa imensa cama, transformada em esquife .

Muitos verões se passaram; o sofrimento, não. Começou quando soube que sua doce Flora dançara com um desconhecido numa festa. Não adiantou ela dizer que não fora além disso. Nem oferecer-lhe um belo sorriso.

Um dia, José levantou. Arrancou a sonda do braço, arrastou-se até o cais e jogou-se n' água, transferindo o seu túmulo.

Até hoje, quase um século depois, as criaturas marinhas ainda contam a história do homem que não sabia amar e tinha os olhos mais negros e tristes já vistos no fundo dos oceanos.

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