domingo, 26 de abril de 2009

1970

Minha fiha Gabi me enviou esta foto - eu, meus irmãos, meu pai (hoje faz 15 dias que ele morreu) e minha mãe (muito linda!). Brinquei com ela que somos a família mais separada do Brasil. Estamos divididos entre o Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Alagoas e Bahia. A foto é de 1970, durante o Carnaval, não me lembro se na Av. Presidente Vargas ou na Av. Rio Branco (RJ). Todos os filhos vestiam as mesmas blusas - a cor é que era diferente -, shorts e sandálias para que não houvesse ciúmes entre uns e outros. Obrigado Gabi, por tudo que a foto me traz.

sábado, 25 de abril de 2009

De frente para o mar

A 1ª Conferência Norte-Nordeste de Comunicação no Serviço Público reuniu, em Recife, cerca de 100 jornalistas, relações públicas, publicitários e técnicos, que atuam na faixa territorial entre Roraima e Bahia. Experiência relevante que serviu para distinguir jornalistas a serviço do Estado, interessados em se aperfeiçoar e melhorar a forma de se comunicar, e burocratas que se aboletaram em assessorias como único e definitivo emprego.

O evento proporcionou importantes debates entre profissionais que ocupam os dois lados do balcão comunicativo (assessorias e redações), acumulando queixas recíprocas e mágoas. Encarar que ambos enfrentam os mesmos problemas – enxugamento de equipes, falta de recursos e treinamento, patrões e assessorados equivocados, salários baixos, deadlines apertados e muitas outras mazelas – funcionou como um bálsamo. Mas também nos deu a certeza que precisamos fazer muito mais para solucionar um problema maior: a má qualidade da informação que levamos ao público.

Má qualidade muitas vezes originária da priorização do marketing sobre o conteúdo informativo e que tem como conseqüências transtornos para população, queda de audiência para os veículos de comunicação e perda de credibilidade do serviço público.

A complexidade das questões tratadas, evidentemente, não se resolve em dois dias. Surgiu da platéia o pedido para que outros encontros como este se realizem no Norte e Nordeste.

Eu, particularmente, saí da conferência com sensação que tive diante da Praia de Boa Viagem, em frente ao hotel onde se realizou o evento: foi reconfortante, mas não dá para esquecer que se bobearmos os tubarões nos atacam.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Condenação (02/06/2007)

No tempo em que as crianças transitavam nos mundos do sonho e da realidade com a mesma desenvoltura, Paulo atravessou o portal como fazia todas as noites. Encontrou uma cidade feita de doces e resolveu levar um pacote de delicados, depois de deliciar-se em fontes de groselha e de colher algodão-doce nas árvores.

Na travessia de volta, a mão apertava o saquinho de balas coloridas e o coração disparava.

Planejou abrir os olhos devagar antes de conferir sua relíquia, mas um vento travesso bateu a porta de seu quarto com força. O susto e o reflexo fizeram-no soltar as gomas coloridas, que se dissiparam no limbo.

Foi assim que aos três anos, como castigo imposto pelos guardiões do universo, o menino perdeu o dom de viajar entre as duas dimensões.

Nos mínimos detalhes
(14/05/2007)

Movida por mãos divinas, a água engole toda extensão de areia e explode na mureta da Praia da Barra, em Salvador, onde uma morena assiste ao espetáculo. Em gotas, o mar beija o rosto da moça, que se ilumina de espanto e alegria.

Perto dali, no Porto, cães labradores brincam, correndo atrás de um coco; duas meninas negras rolam na areia e soltam gritos de infância feliz; um homem de longos cabelos brancos e colares e brincos de sementes mergulha como se não carregasse o peso dos anos; casais se enlaçam; o sol ilumina a todos.

Foi nas terras quentes que um Deus inspirado fez estas pinturas, usando todas as cores da vida. E ainda me deu olhos azuis para vê-las.


(*) Para João, Gabi e Bárbara, minhas parcerias com Deus.

Os segredos da Terra
(12/05/2007)

O clima das terras frias poupa o diabo. É nos trópicos, onde os corações se aquecem, que ele se dana de trabalhar.

(*) Para Ivonilo

terça-feira, 14 de abril de 2009

Ligações

Homens são pontes. Quando se vão, abrem-se brechas nos caminhos e pessoas separam-se nas duas margens da vida.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Meu pai

Horacio José Garcia da Silva partiu do mundo 69 anos e 53 dias depois que embarcou nele, na Páscoa de 2009.

Foi embora me deixando de herança o gênio, o time brasileiro (Vasco), o rosto redondo, minha dupla nacionalidade e a vontade de desbravar o mundo e as mulheres.

Não concordava com a maneira que ele tocava a vida, a relação com os filhos e os negócios, sempre enrolados.

Nem consegui simpatizar com o Porto, para quem ele torcia em Portugal (preferia o Sporting do meu tio e padrinho, com quem ele rivalizava).

Por causa disso, brigamos muito, rimos muito e comemos muito bacalhau .

Ontem, não consegui passagem aérea para presenciar o seu sepultamento, mas minha filha Gabi disse que o rosto dele estava sereno.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Dia mundial da saúde

Esta é a capa de hoje de A TARDE. Compramos a foto do flagrante de parto na rua de um frila. A partir daí, construímos a cobertura sobre o Dia Mundial da Saúde e a situação do setor na Bahia. O texto da chamada: "

Um bebê com pouco mais de um quilo explodiu para a vida, ontem, às 13h30, no calçadão de Ondina. O menino, ainda sem nome, nasceu no Dia Mundial da Saúde, sem que sua mãe, a guardadora de carros Lucicleide da Anunciação Bispo, 32 anos, jamais tenha feito um exame pré-natal. Lutando para viver, o pequeno prematuro foi amparado pela médica fisiatra Lícia Ferreira Carneiro, 31, grávida de sete meses. Ela teve de reanimá-lo, pois ele veio ao mundo sem pulsação.

Em oito anos de profissão, foi o primeiro parto e a terceira vez que Lícia fez massagem cardíaca em uma criança – numa delas, o paciente não resistiu. A história que uniu duas mulheres que vivem em mundos diferentes na mesma Salvador não foi a única que marcou a data criada pela Organização Mundial da Saúde.

Cenas de descaso e protesto ocorreram no Hospital Geral do Estado, onde 50% dos funcionários cruzaram os braços contra o que chamam de distorções do plano de carreiras, cargos e vencimentos, aprovado em janeiro pela Assembleia Legislativa.

A manifestação aumentou a demora pelo atendimento na unidade, que até o meio-dia tinha recebido 250 pacientes. Cleonete Ferreira de Jesus, por exemplo, ficou numa ambulância à espera de socorro após enfrentar quatro horas de viagem e 287 quilômetros entre Capim Grosso e Salvador.

Nem ontem a dengue deu trégua: mais uma pessoa, a 12ª, morreu em Itabuna. Em Feira de Santana, a preocupação com a doença fez médicos iniciarem campanha para adiar a micareta. Num dia em que deveriam ser celebrados bons resultados, ficou claro que as autoridades municipais e estaduais têm de tomar muitas providências para dar um atendimento adequado à população | SALVADOR | PÁGINAS A4 E A5 | BAHIA | PÁGINA B8

“Ainda há muito o que fazer”
Jorge Solla, secretário estadual de Saúde

“ Vamos melhorar a atenção básica”
José Carlos Brito, secretário municipal de Saúde

Gabi

Gabi deu com a cara no mundo num hospital evangélico, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Eu estava desempregado e o pouco dinheiro que tinha serviu para pagar o médico na maternidade mais barata que encontrei.

Quando passou por mim pela primeira vez, na porta da sala de parto, ainda estava avermelhada, envolta numa pasta esbranquiçada e com resquícios de sangue. Achei que seria ruiva, mas os genes portugueses - meu e do avô materno Zequinha - a fizeram ficar loura, após disputarem a primazia com a herança indígena e negra de boa parcela da família de Joana, a mãe.

Volto à noite anterior ao nascimento, quando eu ainda torcia por um menino. Joana me pediu para que desistisse da idéia de chamá-lo de Gabriel, ela queria Matheus. Um anjo me soprou no ouvido e eu respondi: mas se for menina, será Gabriela.

Acordo fechado pulo para o cartório duquecaxiense, onde eu queria registrá-la com um nome longo: Gabriela Maria de Paula Costa da Silva, não aceito pelo escrivão. Ele alegou que "de Paula" não era sobrenome. Para fazer valer minha vontade, teria de ir a outro cartório e pagar por registrá-la fora de jurisdição.

Com pouco dinheiro, desisti e me arrependi por não fazer constar meu nome no dela, assim como fiz com João e Bárbara.

O tempo passou e vi que isto não tinha tanta importância: a menina com quem dormia abraçado num berço, com minhas pernas passando por entre as grades de madeira, tem o formato arredondado do rosto igual a mim, além de muitas outras características parecidas.

Hoje, quando Gabi completa 24 anos, precisamente às 21 horas, nem a distância entre Salvador e Rio me impedem de senti-la bem perto. Lembrar estas histórias é a forma que encontro de agradecer a Deus por este belo presente e de dizer o que todo mundo já sabe: "Bi, te amo loucamente".

segunda-feira, 6 de abril de 2009

A carta de Sullivan Ballou

O major Sullivan Ballou, integrante do 2º Batalhão de Voluntários de Rhode Island, escreveu uma carta para sua mulher Sarah, que o aguardava em Smithfield, uma semana antes de partir para a batalha de Bull Run, onde ele morreria. Ontem, na coluna de Elio Gaspari, jornalista que admiro, mas desaprovo certos métodos, como o de não escrever nada sobre fontes e amigos fiéis - em sua lista de proteção constavam o general Golbery do Couto e Silva e Antônio Carlos Magalhões -, li que ele (Gaspari) considerava esta carta mais bonitas da história.

Resolvi procurá-la e reproduzir para avaliação de meus três seguidores.

Mas antes de colocá-la, dúvidas: ao não citar trechos da carta na coluna, Elio fez jornalismo, incentivando pessoas a pesquisar sobre o assunto? Ou deveria mastigá-la e regurgitá-la na garganta dos leitores?

Bem, chega de história e vamos ao que interessa. Eis a carta, conforme foi lida na série americana The Civil War:

July 14,1861
Camp Clark, Washington DC

Dear Sarah:

The indications are very strong that we shall move in a few days - perhaps tomorrow. And lest I should not be able to write you again I feel impelled to write a few lines that may fall under your eye when I am no more.

I have no misgivings about, or lack of confidence in the cause in which I am engaged, and my courage does not halt or falter. I know how American Civilization now leans upon the triumph of the government and how great a debt we owe to those who went before us through the blood and suffering of the Revolution. And I am willing - perfectly willing - to lay down all my joys in this life, to help maintain this government, and to pay that debt.

Sarah, my love for you is deathless, it seems to bind me with mighty cables that nothing but omnipotence can break; and yet my love of Country comes over me like a strong wind and bears me irresistibly with all those chains to the battlefield. The memory of all the blissful moments I have enjoyed with you come crowding over me, and I feel most deeply grateful to God and you, that I have enjoyed them for so long. And how hard it is for me to give them up and burn to ashes the hopes and future years, when, God willing, we might still have lived and loved together, and see our boys grown up to honorable manhood around us.

If I do not return, my dear Sarah, never forget how much I loved you, nor that when my last breath escapes me on the battle field, it will whisper your name...

Forgive my many faults, and the many pains I have caused you. How thoughtless, how foolish I have sometimes been!...

But, 0 Sarah, if the dead can come back to this earth and flit unseen around those they love, I shall always be with you, in the brightest day and in the darkest night... always, always. And when the soft breeze fans your cheek, it shall be my breath, or the cool air your throbbing temple, it shall be my spirit passing by.

Sarah do not mourn me dead; think I am gone and wait for me, for we shall meet again...

domingo, 5 de abril de 2009

Eu e você

Eu hoje vi o sol namorando a lua. Eram cinco horas e dez minutos da tarde. Os dois estavam diante um do outro, na mesma altura.

Ela, com o vestido prateado, fulgurante diante do céu. Ele, irradiando vigor em sua roupa dourada.

Por um momento o sol se inibiu e escondeu-se por trás das nuvens. A lua permaneceu altaneira e exibida, acima dos prédios da Barra.

O rei do céu ainda esticou todos os seus raios como se quisesse tocar em sua amada antes de se recolher por trás da Ilha de Itaparica.

Ao cair da noite, sem se importar com os olhares dos homens, a lua ficou a mirar-se nas águas do mar.

E eu, que nunca tinha visto um amor tão impossível, pensei em como nós somos felizes.